domingo, 4 de novembro de 2012

A ausência das "letras" F, L e R na linguagem dos tupinambás


Em que se declara o modo e a linguagem dos tupinambás.

 

Ainda que os tupinambás se dividiram em bandos, e se inimizaram uns com outros, todos falam uma língua que é quase geral pela costa do Brasil, e todos têm uns costumes em seu modo de viver e gentilidades; os quais não adoram nenhuma coisa, nem têm nenhum conhecimento da verdade, nem sabem mais que há morrer e viver; e qualquer coisa que lhes digam, se lhes mete na cabeça, e são mais bárbaros que quantas criaturas Deus criou. Têm muita graça quando falam, mormente as mulheres; são mui compendiosas na forma da linguagem, e muito copiosos no seu orar; mas faltam-lhes três letras das do ABC, que são F, L, R grande ou dobrado, coisa muito para se notar; porque, se não têm F, é porque não têm fé em nenhuma coisa que adorem; nem os nascidos entre os cristãos e doutrinados pelos padres da Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor, nem têm verdade, nem lealdade a nenhuma pessoa que lhes faça bem. E se não têm L na sua pronunciação, é porque não têm lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; e cada um faz lei a seu modo, e ao som da sua vontade; sem haver entre eles leis com que se governem, nem têm leis uns com os outros. E se não têm esta letra R na sua

pronunciação, é porque não têm rei que os reja, e a quem obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem ao pai o filho, nem o filho ao pai, e cada um vive ao som da sua vontade; para dizerem Francisco dizem Pancico, para dizerem Lourenço dizem Rorenço, para dizerem Rodrigo dizem Rodigo; e por este modo pronunciam todos os vocábulos em que entram essas três letras.

 

(SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil em 1587- Capítulo CL – Em que se declara o modo e a linguagem dos tupinambás. In: VILLA, Marco Antonio e OLIVIERI, Antonio Carlos. Cronistas do Descobrimento. São Paulo: Ática, 1999, p. 144).
 
 
 

Num País Feliz

Belchior

Ainda não se ouvia o ai do sabiá
E nem Jaci sabia que ele assobiava lá
O índio ia indo, inocente e nu
E no cauim ninguém sentia a essência do caju
Não navegavam naus abaixo do equador
Aqui sem sonhos maus, não há anhanguá,
nem cruz nem dor
E o índio ia indo, inocente e nu
Sem rei, sem lei, sem mais, ao som do sol
e do uirapuru
Não navegavam naus abaixo do equador
E à terra chã, tupã descia sem pam de tambor
Ainda não se ouvia o dó das juritis
E eu já sonhava com a cor e o tom de algum paí
Num país feliz
 

Max Gehringer lista três cursos essenciais para o sucesso na carreira



Formado em Administração de empresas e um dos mais conceituados consultores do mercado de trabalho do país e com um quadro fixo no "Fantástico", da TV Globo, Max Gehringer destacou em palestra na IBE-FGV, em Campinas, três áreas que um profissional precisa focar para se dar bem no emprego.
Para quem pensa em estudar Mandarim para se enquadrar nos negócios chineses, Gehringer aponta que o bom e velho inglês continua sendo a língua universal de quem compra e vende. “Se um russo e um chinês pararem para fazer negócios, vão falar o inglês”, destacou.
Mas quem acha que só isso basta, o consultor lembra que nossa língua portuguesa é um dos quesitos que mais derrubam candidatos em seleções. Portanto, sem um bom português, nada de bom trabalho e sucesso profissional. “Quando fazia contratações em empresas, de cada dez candidatos, oito reprovavam na língua portuguesa”, disse Gehringer.
De acordo com especialistas ouvidos pelo EPCampinas, a língua portuguesa é a responsável pela reprovação da maioria dos candidatos aos concursos públicos.
O especialista em mercado de trabalho também cita um curso que é essencial para um profissional de qualquer área. “Esse curso é desprezado pela maioria, mas Expressão Verbal é essencial”, elencou.
“A gente passa 80% do tempo na empresa falando, vendendo. Quando a gente aprende a falar aumenta a confiança”, completou.
Saber se comunicar é vital para uma carreira de sucesso. “Em uma empresa nunca sabemos quando seremos chamados para falar ou para uma apresentação. De repente, o chefe falta e você é convocado para a apresentação. Aí você diz que não vai porque não sabe falar”, ressaltou.
Mais Dicas
Durante entrevista coletiva na IBE-FGV o consultor Max Gehringer foi questionado sobre dicas de como se dar bem na profissão em um mercado tão competitivo.
O primeiro passo, segundo ele, é começar o mais cedo possível. Gehringer defende que o jovem deve tentar um trabalho aos 17 anos. Depois passar pelo curso técnico, para em um terceiro estágio escolher a faculdade. No curso técnico, o profissional poderá ter mais chances de acertar na carreira, segundo ele. E 92% dos alunos conseguem emprego rápido, de acordo com estatísticas oficiais.“Mas se você não se enquadra em nada, vá ser um empreendedor. Vá abrir o seu negócio”, finalizou.
Fonte: eptv.com

A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA TODAS AS CARREIRAS

Max Gehringer lista três cursos essenciais para o sucesso na carreira


Max Gehringer
Formado em Administração de empresas e um dos mais conceituados consultores do mercado de trabalho do país e com um quadro fixo no "Fantástico", da TV Globo, Max Gehringer destacou em palestra na IBE-FGV, em Campinas, três áreas que um profissional precisa focar para se dar bem no emprego.
Para quem pensa em estudar Mandarim para se enquadrar nos negócios chineses, Gehringer aponta que o bom e velho inglês continua sendo a língua universal de quem compra e vende. “Se um russo e um chinês pararem para fazer negócios, vão falar o inglês”, destacou.
Mas quem acha que só isso basta, o consultor lembra que nossa língua portuguesa é um dos quesitos que mais derrubam candidatos em seleções. Portanto, sem um bom português, nada de bom trabalho e sucesso profissional. “Quando fazia contratações em empresas, de cada dez candidatos, oito reprovavam na língua portuguesa”, disse Gehringer.
De acordo com especialistas ouvidos pelo EPCampinas, a língua portuguesa é a responsável pela reprovação da maioria dos candidatos aos concursos públicos.
O especialista em mercado de trabalho também cita um curso que é essencial para um profissional de qualquer área. “Esse curso é desprezado pela maioria, mas Expressão Verbal é essencial”, elencou.
“A gente passa 80% do tempo na empresa falando, vendendo. Quando a gente aprende a falar aumenta a confiança”, completou.
Saber se comunicar é vital para uma carreira de sucesso. “Em uma empresa nunca sabemos quando seremos chamados para falar ou para uma apresentação. De repente, o chefe falta e você é convocado para a apresentação. Aí você diz que não vai porque não sabe falar”, ressaltou.
Mais Dicas
Durante entrevista coletiva na IBE-FGV o consultor Max Gehringer foi questionado sobre dicas de como se dar bem na profissão em um mercado tão competitivo.
O primeiro passo, segundo ele, é começar o mais cedo possível. Gehringer defende que o jovem deve tentar um trabalho aos 17 anos. Depois passar pelo curso técnico, para em um terceiro estágio escolher a faculdade. No curso técnico, o profissional poderá ter mais chances de acertar na carreira, segundo ele. E 92% dos alunos conseguem emprego rápido, de acordo com estatísticas oficiais.“Mas se você não se enquadra em nada, vá ser um empreendedor. Vá abrir o seu negócio”, finalizou.
Fonte: eptv.com

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

QUANDO O ERRADO ESTÁ CERTO

Quando o errado está certo


Muita gente torce o nariz quando um chatola, como eu, começa a reclamar dos erros de português que se cometem nos jornais e na televisão. Desses, muitos dos que os cometem são profissionais, mas estão pouco ligando para o que consideramos escrever e falar errado.
Sabe-se que, para a maioria dos linguistas, não existe isso de falar errado: todo o mundo fala certo. Admitem existir uma "norma culta", que obedece às regras gramaticais, mas violá-las não é propriamente errar. Ouvi de um deles que está tão certo dizer "pobrema" como "problema". Obtuso como sou, tenho dificuldade de entender por que eles mesmos vivem escrevendo livros e colunas em jornais, ensinando como se deve escrever. Ora, se não existe falar errado, por que ensinar?



Não deve o leitor concluir daí que sou aquele morrinha que vive catando os deslizes de cada um, mesmo porque não posso me considerar um grande conhecedor da língua. Gosto dela, prezo-a ou, melhor dizendo, considero-a uma das extraordinárias criações do gênio humano. Não é maravilhoso imaginar que, muito antes de surgirem os gramáticos, nossos ancestrais já falavam obedecendo às normas que tornaram o idioma meio de comunicação entre as pessoas e de invenção do nosso mundo cultural?



Pense bem nesta maravilha: a palavra "este" indica algo que está perto de mim; "esse", o que está perto de você; e "aquele", o que está longe de nós dois. Eis a linguagem expressando as relações reais do sujeito e das coisas do mundo. Não obstante, todos os locutores de rádio e televisão, como a maioria dos jornalistas, referindo-se ao que está perto de si, usam "esse" em lugar de "este". E isso é hoje tão frequente que já nem se repara.

Ninguém vai morrer por isso, mas não deixa de ser preocupante observar as pessoas deformarem e empobrecerem a língua, usando, por exemplo, "sobre" como regência de quase todos os verbos.



Em vez de "comentou os fatos" dizem "comentou sobre os fatos"; em vez de "quando falou do problema", dizem "quando falou sobre o problema"; em vez de "alertado do ataque", dizem "alertado sobre o ataque", e por aí vão.

Em certas frases, o uso de "sobre" chega ao limite do desatino: "o deputado aguarda o desmentido sobre a denúncia", quando seria muito mais simples e elegante dizer "aguarda o desmentido da denúncia". Vá você, agora, explicar como surgiu essa mania do sobre, que espero seja apenas uma mania, como outras que surgiram e se foram.



Lembram-se da época em que todos usavam a expressão "a nível de"? Servia para qualquer coisa, como ouvi um entrevistado afirmar que, "a nível de ração para porcos, o melhor seria...". Felizmente, essa mania passou, o que me faz crer que a língua termina por excluir de si as excrescências que nela se introduzem. Mas parece que nem sempre, porque, às vezes, o mau uso se generaliza e até mesmo se oficializa.



Existe coisa mais descabida do que chamar de "sambódromo" uma passarela para desfile de escolas de samba? Em grego, "-dromo" quer dizer "ação de correr, lugar de corrida", daí as palavras autódromo e hipódromo. É certo que, às vezes, durante o desfile, a escola se atrasa e é obrigada a correr para não perder pontos, mas não se desloca com a velocidade de um cavalo ou de um carro de Fórmula 1.



Muitas vezes, à irreverência junta-se a ignorância, a pouca leitura dos bons escritores. Não é que tenhamos de escrever como escrevia Camões, mas o conhecimento do idioma, em seus diferentes momentos históricos e em suas mudanças, ajuda-nos a preservar a língua no que tem de essencial como também a transformá-la sem lhe trair a natureza. É essa ignorância que leva alguns redatores de televisão a substituir "risco de vida" por "risco de morte", achando que esta é a expressão correta. Ganha-se em obviedade e perde-se em elegância.



Já mencionei aqui, noutra ocasião, a tal lei da termodinâmica, segundo a qual os sistemas tendem à desordem. Sendo a língua um sistema, está sujeita a desorganizar-se, como o atestam os exemplos citados, tanto mais hoje em dia, quando a TV induz milhões de pessoas a falar errado. Essa mesma TV que poderia se tornar um instrumento decisivo na luta contra a entropia. Ou será que escrever certo é elitismo?





Ferreira Gullar, artigo publicado na Folha Ilustrada, do Jornal Folha de São Paulo, de 20 de junho de 2010

ALGUÉM FALA ERRADO?

Alguém fala errado?

FERREIRA GULLAR
folha de s paulo (25/09/2005)

 
Sei muito bem que, de acordo com a lingüística moderna, não existem o certo e o errado no uso do idioma nacional, ou melhor, não existe o errado, o que significa que tudo está certo e que minha antiga professora de português, que me ensinou a fazer análise lógica e gramatical das proposições em língua portuguesa, era uma louca, uma vez que a língua não tem lógica como ela supunha e a gramática é de fato um instrumento de repressão; perdeu seu tempo dona Rosinha ensinando-me que o verbo concorda com o sujeito, e os adjetivos com os substantivos, como também concordam com estes os artigos, ou seja, que não se deve dizer dois dúzias de ovos, uma vez que dúzia é palavra feminina, donde ter que dizer "duas dúzias de ovos", o que era, como sei agora, um ensinamento errôneo ou, no máximo, correto apenas naquela época, pois hoje ouço na televisão e leio nos jornais "as 6 milhões de pessoas", construção indiscutivelmente correta hoje, quando os artigos não têm mais que concordar com os substantivos e tampouco com o verbo, como me ensinara ela, pois me corrigia quando eu dizia "ele foi um dos que fez barulho", afirmando que eu deveria dizer "um dos que fizeram barulho", e me explicava que era como se dissesse "foi um dos três que fizeram barulho", explicação antiquada, do mesmo modo que aquela outra referente à regência dos verbos e que eu, burróide, entendi como certo quando, na verdade, o certo não é, por exemplo, dizer "a comida de que ela necessita" ou "o problema de que falou o presidente", e, sim, "o problema que falou o presidente", frase que, no meu antiquado entendimento, resulta estranha, pois parece dizer não que o presidente falou do problema, mas que o problema falou do presidente, donde se conclui que sou realmente um sujeito maluco, que já está até ouvindo "vozes" e, além de maluco, fora de moda, porque não se conforma com o fato de terem praticamente eliminado de nossa língua as palavras "este" e "esta", que foram substituídas por "esse" e "essa", pois sem nenhuma dúvida é uma tolice querer que o locutor da televisão, referindo-se à noite em que fala, diga "no programa desta noite" em lugar de "no programa dessa noite", que, dentro do critério de que o errado é certo, está certíssimo, ao contrário do que exige esta minha birra, culpa da professora Rosinha, por ter insistido em nos convencer de que "este" designa algo que está perto de mim, "esse", algo que está perto de você e "aquele", o que está longe dos dois, e ainda a minha teimosia em achar que essas palavras correspondem a situações reais da vida, não são meras invenções de gramáticos; e, de tão sectário que sou nesta mania de preservar a língua, não suporto ouvir a expressão "isto não significa dizer" em vez de "isto não quer dizer", que é o correto, ou era, além de expressão legítima, enquanto a outra é um anglicismo, mas que, por isso mesmo, há quem considere ainda mais correta, porque estamos na época da globalização, o que torna mais bobo ainda implicar com estrangeirismos, como aquele meu amigo que fica irritado ao ler nos jornais que "a reunião da Câmara foi postergada para segunda-feira", em vez de "adiada", como sempre se disse e que facilita o entendimento da maioria das pessoas, já que nem todos os brasileiros amargaram o exílio em países de língua espanhola. Mas já quase admito ser muita pretensão teimar em dizer "o governador cogita de enviar à Câmara um novo projeto de lei", pois isso de que o verbo "cogitar" rege a preposição "de" também é bobagem, coisa de gente pretensiosa que precisa se impor às outras falando arrogantemente "correto", como se houvesse modo de falar certo ou errado, de falar correto, pois a verdade é que tal pretensão oculta um preconceito de classe, uma discriminação contra aqueles que não tiveram oportunidade de estudar e, por essa razão, não podem falar como os que usufruíram do privilégio burguês, ou pequeno-burguês, de estudar gramática, o que vem acentuar a injustiça social. Como se não bastasse serem aqueles pobres discriminados no trabalho e no conforto, ainda se acrescenta essa discriminação, acusando-os de falarem mal a língua, da qual são eles de fato os criadores e que foi apropriada pelos ricos e poderosos que agora se consideram donos dela, como de tudo o mais que existe neste mundo, pois eles de fato não toleram a hipótese de que todas as pessoas sejam iguais e que todas elas falem corretamente ainda que gramáticos elitistas insistam em dizer que falam errado só porque não falam segundo as normas da classe dominante, que, além de impedir os pobres de estudar, acusam-nos de serem ignorantes, atitude de fato inaceitável, pois sabemos que todas as pessoas são igualmente inteligentes e talentosas, portanto capazes de criar obras de arte geniais, de conceber teorias iguais às que conceberam Galileu e Einstein, e só não o fazem porque são deliberadamente impedidas de dar vazão a seu gênio criador; e também neste caso se comete a injustiça de consagrar como gênios alguns homens privilegiados e não atribuir qualquer valor aos milhões, perdão, às milhões de pessoas tidas como comuns, e só não consigo entender é por que os lingüistas que defendem tais idéias continuam a escrever corretamente tal como exigia minha professora do colégio São Luís de Gonzaga, naqueles distantes anos da década de 1940... Diante disto, não está mais aqui quem falou.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Variações linguísticas: NINGUÉM FALA COMO LIVRO

Ninguém fala como livro


Desde criança vivemos uma vigilância sobre o uso do idioma.
Evanildo Bechara

Um dos cuidados fundamentais da educação lingüística, a "correção da linguagem" começa nos primeiros ensaios da fala da criança em contato com seus familiares, que são, em geral, os primeiros professores de língua que ela conhece, correção que se prolonga pelo resto da vida. Entre esses professores, está, sem sombra de dúvida, em lugar de relevo, a mãe, razão por que - talvez - se diga da língua nativa "língua materna" (e não "língua paterna"), pois com ela a criança mantém, nos anos iniciais da existência, contato mais amiudado e profundo.
É nessa fase que surgem as primeiras observações em busca de um padrão lingüístico "normal", isto é, que respeite a normalidade do uso vigente no seio da família. As correções iniciais incidem na articulação dos fonemas da língua, especialmente aquelas articulações que a criança domina por último (a troca do r por l); são ainda dessa fase os avisos quanto à troca de posição de fonemas dentro da palavra (cardeneta por caderneta), a certos grupos consonantais menos comuns no dia-a-dia (biciqueta por bicicleta), a certos desvios de acentuação tônica (gratuíto por gratuito, récem por recém).

Como, por essa quadra da vida e mais adiante, a criança domina o sistema da língua, isto é, o "regular", mas não a norma, isto é, o "normal" no uso (nem sempre há coincidência entre o sistema e a norma da língua), vêm as correções nas formas nominal e verbal do tipo "não é padrinha, e sim madrinha"(a criança já intuíra que na oposição -o final/-a final faz o idioma a oposição masculino/feminino, como em tio/tia, primo/prima etc.); "não é fazi e sim fiz"; "não é fazeu, e sim fez"(ao peso de flexões como temi, perdi e temeu, perdeu); "não é trazi, e sim trouxe", "não é trazeu, e sim trouxe" etc.

Ao entrar para as séries iniciais da escola e já alfabetizada, a criança deve ter aprendido a evitar a maioria desses enganos de língua, se a ação da família foi efetiva e constituiu um modelo eficaz ao bom desempenho lingüístico do nosso jovem. Nos bancos escolares, começa a conhecer uma nova modalidade de língua; a escrita, que passa a conviver com a até então exclusiva língua falada de sua bagagem idiomática.

O risco do padrão
À medida que a escola vai oferecendo ao nosso jovem as páginas de histórias, poesias, crônicas, alguns enganos de ordem lingüística e pedagógica se vão fixando em sala de aula de língua portuguesa, enganos de conseqüências perigosas e funestas devido ao trabalho e ação de professores mal informados e à aprendizagem de alunos mal orientados.
O primeiro engano de natureza lingüística é a suposição de que a língua portuguesa desse momento é uma realidade homogênea e unitária, e a sua única e legítima expressão é a língua padrão refletida e concretizada nos textos escritos veiculados pela escola entre os alunos. Esse ledo engano sinonimiza a língua portuguesa com a língua escrita, com a língua literária, com a língua padrão ou standard, de modo que português só é o que está na gramática e no dicionário, abonado pelo prestígio dos bons escritores. Fora dessa realidade, dizem os professores mal informados, "isso não pode ser dito" ou, o que é mais grave, "isso não é português" (é o caso de perguntar o aluno: "então que língua é essa, se não é português o que eu digo?").
Ora, é um lamentável engano de conhecimento de lingüística, isto é, de ciência das línguas, esse de imaginar uma língua histórica - como o português, o inglês, o francês etc. - uma realidade homogênea e unitária. Uma língua histórica é um conjunto de idiomas mais ou menos semelhantes e mais ou menos distintos, ainda que considerados num só momento de seu percurso histórico, por exemplo, o português dos nossos dias. Há nessa língua histórica diferenças regionais, os chamados dialetos, como o português do Brasil, o de Portugal, o da África. Mesmo no Brasil ou em Portugal ou na África, persistem as diferenças geográficas: o português do Norte do Brasil, o português sulista. Numa determinada região, por exemplo, no português do Recife, notam-se diferenças nos estratos sociais desse falar regional, os chamados dialetos sociais, como a variedade da classe culta, a da classe semiculta e a dos analfabetos, a língua popular.
Existem ainda as variedades estilísticas, isto é, as que existem entre a língua escrita - em geral cuidada, tensa - e a língua falada, espontânea; entre a língua "de uso" e a língua literária; entre a língua corrente e a língua técnica, inclusive a burocrática; entre a língua da prosa e da poesia.

Variáveis das variantes
Todas essas variedades regionais, sociais e estilísticas são igualmente válidas e importantes do ponto de vista lingüístico, cientificamente falando. Está claro que cada uma é adequada ao tipo de cada falante e a cada circunstância da vida social, do nosso compromisso com o contexto e com a natureza do nosso ouvinte ou destinatário. Se erro existe, é querer usar de uma variedade quando a norma social exige outra variedade mais adequada. Por isso, está equivocada a pessoa que pensa que saber português é só saber falar empolado, difícil ou, como também se diz, falar como um livro. É o mesmo engano da pessoa que pensa que se vestir bem é vestir-se de uma só maneira, quer vá ao casamento, ao trabalho, ao cinema, à praia ou à feira. Em algum ou alguns desses momentos estará cometendo uma gafe no falar ou no vestir.
Muita gente pensa que "se aproxima" do seu ouvinte, que "o conquista" mais facilmente, falando ou escrevendo numa variedade de língua menos exigente e mais corriqueira. É como se falasse para adultos com a modalidade própria da que se usa com as crianças, porque os considera como filhos.
Falar ou escrever para outrem, ainda que de condição cultural abaixo da sua, exige dignidade, que já é uma faceta do respeito que se deve ao semelhante. Um repórter bem vestido que fale dos Estados Unidos ou da França ao telespectador brasileiro com "vi ele" ou "encontrou ela" é como se passasse, por antecipação, um atestado de ignorância ao público, por achar que "vi-o" ou "encontrou-a" são formas de dizer incompatíveis com a pouca dignidade cultural ou o baixo grau de escolaridade terceiro-mundista. Daí, talvez, preferir chamar os telespectadores de "galera", esquecendo-se de que, quando a Orquestra Sinfônica se apresenta na Quinta da Boa Vista, a "galera humilde" vibra com os clássicos e aplaude Carlos Gomes, Chopin ou Mozart. Perde o repórter que assim procede a oportunidade de instruir os que sabem menos do que ele e esperam mais da TV brasileira.

Erro pedagógico
Tão grave quanto o desconhecimento que vimos apontando é o erro pedagógico. Partindo da idéia de que essa língua padrão ou standard é uma imposição da "classe dominante", da "língua do poder", e de que o aluno já se comunica muito bem por meio da variedade viva que trouxe de casa e vigora e revigora na rua, nas praças e até em certo tipo de literatura de crônicas do quotidiano, de fatos do dia-a-dia, com intuitos de lazer e com finais humorísticos, há professores mal informados e pedagogos engajados que defendem que a variedade a ser cultivada e cultuada na escola é essa língua "natural" falada, viva e espontânea, sob a bandeira tão aplaudida pelos jovens que não querem esforçar-se na sua risonha e brincalhona passagem pelos bancos escolares, onde a exigente e suada aprendizagem não ocupa o lugar privilegiado da merenda escolar e das brincadeiras no recreio. É pedagogia de aprender brincando. Em tudo isso há, naturalmente, honrosas exceções que, pelo seu minguado número, justificam a regra
Fonte : Revista Educação - Edição 112

quarta-feira, 3 de outubro de 2012




GERÚNDIO x Gerundismo

RICARDO FREIRE
A luta vai estar continuando
Foi, provavelmente, a primeira vez que você me leu. Algum amigo mandou para sua caixa postal eletrônica um texto que começava assim:
'Este artigo foi feito especialmente para que você possa estar recortando e possa estar deixando discretamente sobre a mesa de alguém que não consiga estar falando sem estar espalhando essa praga terrível da comunicação moderna, o futuro do gerúndio'.
Naquele tempo, nem todo mundo ainda tinha se dado conta de que o português do Brasil estava sendo contaminado por um tempo verbal esdrúxulo, contrabandeado por más traduções de livros de marketing. A situação era grave. Se nada fosse feito, em breve aquilo seria consi- derado correto e incorporado à gramática brasuca.
Tratava-se de uma campanha educativa: 'Mais do que estar repreendendo ou estar caçoando, o objetivo deste movimento é estar fazendo com que esteja caindo a ficha nas pessoas que costumam estar falando desse jeito sem estar percebendo'.
Em tom de manifesto, eu continuava: 'Nós temos de estar nos unindo para estar mostrando a nossos interlocutores que, sim!, pode estar existindo uma maneira de estar aprendendo a estar parando de estar falando desse jeito'.
No fim do mês passado, esse texto fez cinco anos - o que significa que estamos já há meia década em guerra contra o terrível gerundismo. Será que temos algo a comemorar?
Acredito que sim. Pelo que sei, muitos bancos e operadoras de telemarketing - os próprios laboratórios de onde essa doença escapou para as ruas - empenharam-se em campanhas para erradicar o gerundismo de seu ambiente (em alguns casos, usando até aquele texto como apostila).
Hoje, o gerundismo deixou de ser uma conspiração de grandes empresas contra nossos ouvidos e tornou-se um vício de caráter privado, como o cigarro, o álcool ou o bingo. Ainda não existem clínicas de reabilitação para gerundistas, mas é só uma questão de tempo. Só quem já se viu dominado sabe quanto é difícil largar o gerundismo. Às vezes, o 'eu vou estar transferindo a sua ligação' é mais forte que você.

Felizmente, o pior não aconteceu. Se nada tivesse sido feito há cinco anos, a que ponto teríamos chegado? Não custa nada imaginar.
A esta altura, o gerundismo já teria escapulido das relações de compra e venda e invadido outros territórios, como o dos ditados. De 'ter é poder' para 'estar tendo é estar podendo' é um pulo. O último que vai estar chegando é a mulher do padre. É estar pegando ou estar largando!
As crianças, graças aos céus, continuam imunes. Ainda não se canta 'Ciranda, cirandinha, vamos todos estar cirandando'. Pais e padrinhos não perguntam 'O que você vai estar sendo quando vá estar crescendo?'. Garotos brigões não ameaçam 'Eu vou tá te pegando na saída!'.


Ilustração: Fido Nesti
A poesia permanece a salvo do gerundismo. Dificilmente nosso próximo Vinícius escreverá 'Eu sei que vou estar te amando/Por toda a minha vida vou estar te amando'. Outra: os títulos dos livros continuam intactos. Ainda não soltaram nenhuma edição de 'A insustentável leveza do estar sendo'.
Enquanto o gerundismo permanecer fora dos estádios de futebol - e o 'Vamuláááá!' não se transformar em 'Vamotaindolááááá!' -, saberemos que a situação está sob controle, e o gerundismo um dia passará, como um 'a nível de' qualquer.
De todo modo, vencemos algumas batalhas, mas a guerra ainda não está ganha. O lema do movimento continua o mesmo: não vamos estar nos dispersando!
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDR73498-6016,00.html

terça-feira, 2 de outubro de 2012


A Língua na internet


PENÚLTIMA FLOR DO LÁCIO
Josué Gomes da Silva 

Se estivesse vivo, o poeta Olavo Bilac, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, talvez sentisse forte inclinação a fazer sutil mudança no primeiro verso de seu célebre soneto "Língua portuguesa". Em vez de "Última flor do Lácio, inculta e bela", provavelmente ele alteraria para "Penúltima...".
Nada mais lógico, pois agora a última "flor do Lácio", nem sequer certamente entendida de modo pleno pelos antigos leitores de Bilac, é o português "falado" pelos jovens na internet e nas redes sociais.
São numerosos códigos, abreviaturas oficiosas, neologismos e construções gramaticais "inovadoras" que descaracterizam nosso idioma, considerado um dos mais ricos, complexos e positivamente redundantes sob o aspecto da linguística e da semiótica.
Desde os simples e já ultrapassados e-mails até o Twitter, o Facebook, o Orkut, o SMS e outros aplicativos, crianças e jovens comunicam-se com extrema agilidade e fluência, usando seus computadores, celulares e tablets.
O mais extraordinário é que, nesse "webportuguês", privilegiando consoantes, conseguem expressar todo tipo de informação, bem como emoções e sentimentos nas suas mensagens de Natal, Dia das Mães, Dia dos Pais e até nas declarações ao primeiro amor.
Pouco a pouco, os adultos, de maneira inevitável, vão incorporando a linguagem dos jovens na internet. Surge novas maneiras de expressão adequadas às mudanças culturais que a tecnologia suscita. Agilidade é tudo o que precisa uma sociedade na qual o tempo tornou-se commodity comportamental. Os jovens intuíram isso antes de todos, percebendo que a síntese eleva muito a produtividade da comunicação nas mídias digitais. Um ensinamento para ninguém botar defeito.
Portanto, nada a criticar. Mas há algo a ser considerado. Simultaneamente ao uso de sua criativa e eficaz linguagem, crianças e jovens não podem perder-se quanto à boa e sempre renovada língua portuguesa. Isso reforça a importância da qualidade do ensino do idioma nas escolas e o papel das famílias na atenção ao "certo", tanto no acompanhamento das lições de casa, quanto valorizando os bons hábitos semânticos, gramaticais e lexicais no cotidiano.
Da mesma maneira que o já corriqueiro aprendizado do inglês não deve impedir que o bom português seja cultivado na infância e na juventude, o idioma "internético" não pode ser empecilho à correção no uso de nossa língua pátria.
Creio que o mais importante nesse tema seja a democratização da excelência do ensino e do acesso aos computadores e à web. Se garantirmos isso, as futuras gerações falarão e escreverão de modo escorreito a "penúltima flor do Lácio". Vc tb concorda, bro?
JOSUÉ GOMES DA SILVA escreve aos domingos nesta coluna.

Vocabulário: crítica ao estrangeirismo


Ludopédio no gramado

Maílson da Nóbrega

"O uso de estrangeirismo costuma enriquecer
o idioma. Amplia o vocabulário. Contribui para
simplificar a linguagem. Facilita a comunicação
e a exposição de ideias. O inglês é um bom exemplo"



Se o governador Roberto Requião vivesse e pudesse fazer a lei no fim do século XIX – quando o futebol chegou ao Brasil –, a palavra poderia não existir entre nós, dadas as complicações da norma. Nas propagandas, o vocábulo football teria de ser traduzido para o português. Ao seu lado apareceria ludopédio (futebol, segundo o dicionário Houaiss).
É assim que reza projeto recentemente aprovado pela Assembleia Legislativa do Paraná, por proposta do governador. Obriga a tradução de palavras de outros idiomas em propaganda no estado. O objetivo, segundo Requião, é "o reconhecimento e a valorização da língua pátria". A base seria o princípio da soberania nacional (artigo 1º da Constituição).
Se a regra fosse nacional e existisse naquela época, haveria que encontrar tradução para termos ingleses hoje incorporados ao mundo do futebol: esporte, time, gol, drible, craque. O jeitão de ridículo de ludopédio talvez se tornasse familiar. Isso aconteceu com escanteio e impedimento, que substituíram corner e off-side.
O paranaense Coritiba teria outro nome. Seu título oficial é Coritiba Foot Ball Club (www.coritiba.com.br). Seria complicado traduzir as três palavras inglesas em propaganda. Procuradores poderiam questionar o seu uso na fachada da sede do Coritiba. Melhor chamar-se Sociedade Recreativa Coritiba de Ludopédio.
O mesmo xenofobismo está na base de projeto de lei do deputado federal Aldo Rebelo. Pela proposta, toda e qualquer palavra ou expressão em língua estrangeira usada no território nacional ou em repartição brasileira no exterior teria de ser substituída "por palavra ou expressão equivalente em língua portuguesa no prazo de noventa dias a contar do registro da ocorrência". Haveria umas poucas exceções.
A absorção de palavras estrangeiras é típica das línguas vivas e fruto do intercâmbio de bens, serviços, pessoas e ideias. O mesmo ocorreu na dominação estrangeira, como na introdução forçada do latim pelos romanos e de línguas europeias pelos impérios coloniais, incluindo o português no Brasil. Durante mais de dois séculos depois da conquista da Inglaterra pelos normandos (1066), o francês foi a língua oficial da corte.
O uso de estrangeirismo costuma enriquecer o idioma. Amplia o vocabulário. Contribui para simplificar a linguagem. Facilita a comunicação e a exposição de ideias. O inglês é um bom exemplo. Aberto à influência externa, ganhou inúmeras palavras durante as invasões romana (o nome da capital vem do latim Londinium) e normanda. E importou milhares do idioma de países que dominou e de muitos outros.
Apenas 20% a 30% das 80 000 palavras inglesas dicionarizadas pertencem às suas origens saxônicas. O francês, que teria contribuído com parcela semelhante, está muito presente nas artes e na culinária. O latim está nas ciências e o grego, na medicina (como também ocorre em outras línguas). Palavras espanholas, italianas, russas, indianas e outras integram o vocabulário inglês. O português chegou direto com bossa nova, cobra e piranha ou por adaptação com cashew (caju), manioc (mandioca) e mulatto (mulato).
O português se beneficiou de muitos vocábulos estrangeiros. Nem nos damos conta de que o francês nos trouxe ateliê, atachê, bufê, cinema, filé, perfume, sutiã. O inglês nos forneceu xampu, nomes de esportes (além do futebol, beisebol, voleibol, basquetebol, handebol, golfe, tênis), bife, buldogue, zíper, estresse. Se houvesse a Lei Requião, como seriam traduzidas a italiana pizza, a árabe esfirra e a espanhola paella?
A tecnologia continua a trazer estrangeirismos, que os jovens adotam rapidamente e os adultos, mais tarde. Mesmo quando há correspondentes em português, a preferência é importar e aportuguesar termos ingleses: deletar, atachar, inicializar. Deletar, que está no Aurélio, é mais um vocábulo de raiz latina (delere) no idioma de Shakespeare.
Em Portugal, o mouse do computador é rato mesmo. O que ganhariam os paranaenses se nas propagandas aparecesse rato ao lado de mouse? Nada. A Lei Requião é, pois, uma tremenda tolice. Ela não reforçará a soberania nacional. Significará apenas aumento de custos, perda de tempo e falta do que fazer.
fonte: http://veja.abril.com.br/290709/ludopedio-no-gramado-p-107.shtml

VOCABULÁRIO- Você sabe o que é FLUNFA?

Sou mais a flunfa

03 de junho de 2012 | 6h 42
Humberto Werneck
Com tanta palavra no dicionário, será que existe uma para cada coisa?
Claro que existe, disse eu de bate-pronto, e saquei um exemplo:
– Sabem o nome desses pelos dentro do nariz?
Segundos de silêncio eivado de inveja lexicográfica, antes que viesse eu iluminar a ignorância dos presentes:
– Vibrissas.
Arrasei! Só não contava com a volta por cima de um desmancha-prazeres:
– E aquele algodãozinho no umbigo no final do dia?
Algodãozinho? Umbigo? Apanhado no contrapé, o sabichão coçou o imaginário cavanhaque, rosnando para dentro: ah, isso não vai ficar assim! E não ficou mesmo. Tanta coisa urgente me esperando, mas parei tudo – e por muitas horas nada fiz senão escarafunchar o umbigo da língua portuguesa, até estar em condições de anunciar: aquilo tem nome, sim.
Chama-se flunfa.
Não perca tempo folheando o Houaiss ou qualquer outro dicionário, pois nenhum deles sabe o que é a flunfa. Em vez disso, refaça meus passos no Google, onde fui informado de que a palavra não só existe como comparece numa crônica do Verissimo, e já faz tempo, num livro de 1997, A mãe de Freud.
Fui encontrá-la também no Urban Dictionnary, igualmente consultável na internet. Pode ter sido posta ali por algum brasileirinho, mas a raiz do neologismo é a palavra inglesa fluff – “macia massa de fibras de lã e outros materiais, acumulada em lugares onde não é desejada”. No umbigo, por exemplo. Mas disso não sabiam vocês aí, os 206 membros da comunidade “Bolinhas de algodão no umbigo”, criada no Orkut para cultuar semelhante insignificância.
Insignificância? Pois fique sabendo que a flunfa desfruta do status de objeto da ciência, estudada que foi pelo químico austríaco Georg Steinhauser. Durante três anos ele se dedicou à análise de 503 amostras coletadas em seu próprio umbigo, daí resultando um artigo na Medical Hypothesis. Sem usar a palavra flunfa, ou mesmo fluff, o Steinhauser revelou que o depósito umbilical é uma porcarieira em cuja composição entram fiapos de roupa, como já sabíamos, mas também fragmentos de pele morta, gordura corporal, suor e poeira. Coisa demais para nossos despretensiosos umbigos, convenhamos.
Três anos foram pouco, no entanto, para que esse abnegado da ciência elucidasse todas as transcendentais questões postas pela flunfa. Cansado de contemplar sua barriga, o dr. Steinhauser jogou a toalha, legando-nos um desafiador enigma: “Por que certos umbigos coletam mais fiapos do que outros?”
A resposta poderia vir de outro apaixonado pelo relevante assunto, o australiano Graham Baker, que em 17 de janeiro de 1984 (tudo criteriosamente registrado) se pôs a colecionar o conteúdo de seu umbigo, tendo por isso merecido ingresso no Guinness Book.
O problema é que o Baker não chega a ser um cientista, ao contrário do Steinhauser, que antes de ocupar da flunfa já se notabilizara por um estudo sobre a corrosão de sua aliança de ouro durante o primeiro ano de casamento. Como para deixar claro que nem tudo se corrói, dedicou à mulher, Veronika, o trabalho publicado no Gold Bulletin, no qual aprendemos que o principal fator de desgaste, mais do que a jardinagem e a prática do ski, é a areia da praia.
Nenhuma referência ao hábito de pular cercas. Em um ano o anel havia perdido 6,15 mg de ouro – constatação que descortina excitante disputa para saber o que vai acabar primeiro, o casamento ou a aliança.
Não é justo que nenhuma das pesquisas do Steinhauser tenha recebido o prêmio IgNobel, atribuído a trabalhos científicos que se destacam pela bizarria. Nada ficam a dever a estudos premiados que esmiuçaram os momentosos temas da massagem retal usada pela curar soluços, da capacidade que têm os pinguins de defecar a 40 cm de distância, dos suicídios relacionados com o hábito de ouvir música country no rádio ou das dançarinas eróticas que ganham gorjetas mais alentadas quando estão ovulando.
Olha, sou mais a flunfa. E você?
http://www.estadao.com.br/noticias/geral,sou-mais-a-flunfa,881738,0.htm

domingo, 16 de setembro de 2012

VERBOS - CONCORDÂNCIA/ CONJUGAÇÃO

Exterminador do futuro

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsman/63982-exterminador-do-futuro.shtml 

"Quase derrubei o café ao ler 'Cotidiano'. Na página 4, a manchete era 'Servidor que manter greve ficará sem reajuste, diz governo'. Mal refeito do susto, na página seguinte, vi a linha-fina: 'Mais conhecido matador da história de São Paulo, ex-PM afirma que, quanto menos se expor, melhor'. Estaria a Folha liderando algum movimento para eliminar o modo subjuntivo do nosso idioma?"
O parágrafo acima foi montado com trechos de 24 mensagens de leitores indignados com erros de gramática no jornal.
A dificuldade com o futuro do subjuntivo gerou dois "erramos" e foi tema de Pasquale Cipro Neto na quinta-feira. No mesmo dia, porém, um "Tráfico virtual" entrou no lugar de "Tráfego virtual", o que suscitou novas reclamações.
Por que o jornal erra tanto? A função do "revisor", do encarregado apenas de corrigir, foi eliminada há anos. Os redatores fazem uma segunda leitura dos textos, mas precisam também colocá-los no tamanho adequado, dar títulos, fazer legendas, escolher fotos etc.
Há um Programa de Qualidade, com cinco pessoas, que promove ações para melhorar o conhecimento de gramática na Redação. É utópico pensar que um jornal diário terá "erro zero", mas o leitor está certo ao exigir que ao menos os "grotescos", aqueles que doem no ouvido, sejam eliminados.

Verbos CONCORDÂNCIA

CERTA POBREZA 
Danuza Leão
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/danuzaleao/1147013-certa-pobreza.shtml

Outro dia tive que ir ao centro da cidade, onde não ia havia anos. Conheci esse centro quando ainda era criança e tinha chegado do Espirito Santo para viver no Rio. Na zona sul não havia lojas, ainda não existiam as butiques, e uma vez por semana ia com minha mãe ao centro.
Era onde se faziam compras, desde as mais banais, até as mais importantes, que na época era um par de sapatos ou o tecido para fazer um vestido. Não existiam vestidos prontos, e cada família tinha sua costureira. Comprava-se o figurino (revista de moda), a costureira dizia de quantos metros precisava, fazia-se uma prova, e um dia chegava um embrulho de papel cor de rosa, fechado com alfinetes --o durex ainda não tinha sido inventado--, trazendo o vestido.
Era uma emoção ir ao centro, onde havia um comércio que me parecia o luxo dos luxos. Havia até lojas que vendiam casacos de pele, e imagino que fazia frio no Rio para usar peles --devia fazer--, pois as vitrines das lojas Canadá e Sibéria mostravam as mais lindas.
Depois das compras, um lanche na Colombo, e a volta para casa de bonde. Era um dia completo, de total felicidade. Foi lá que pela primeira vez tomei um sundae e comi uma coxinha de galinha; em Vitória não existiam essas coisas chiques.
O mundo mudou, anos não ia ao centro, mas tive que ir, semana passada. Passei pelas mesmas ruas e me deu uma tristeza tão grande que era melhor não ter ido.
Fui parar no largo da Carioca; é um largo, como diz a palavra, onde hoje as lojas são barraquinhas, e havia uma que, para animar, tocava um som bem alto. Das músicas, nem vou falar. Mas o que me impressionou mesmo foi a quantidade de pessoas que circulava por ali. Eram muitas e todas, absolutamente todas, muito pobres.
Em qualquer bairro do Rio existe gente pobre, mas não tantas assim, nem tão pobres. Era uma miséria absoluta, que se via nas roupas, nos sapatos --a maioria com uma sandália havaiana já bem usada-- e nos rostos. Muitas lanchonetes pela rua, e numa delas o cartaz:
"Arroz, feijão e batata frita por R$ 10,50".
Fiquei pensando nos pobres do Nordeste, que se veem na televisão e em alguns filmes brasileiros; eles moram em casebres com chão de terra batida, sempre muito bem varrido. E têm uma dignidade; não sei bem de onde ela vem, mas ela existe. Talvez por terem um pedacinho de chão só deles, talvez.
A pobreza urbana é agressiva; são mulheres com uma criança no colo, duas pela mão, levadas pelas mães porque não têm com quem ficar, adolescentes de short e camiseta que devem ser a única roupa que têm. Ninguém pedia esmola, todos estavam ali fazendo alguma coisa, trabalhando, encarando um bico qualquer, talvez de ambulante, talvez de ajudante de camelô.
E notei que apesar dessa miséria tão evidente, tão dramática --essas pessoas não pertenciam, seguramente, à tão falada classe C--, quase todas as mulheres, e as crianças que iam junto, tinham as unhas dos pés pintadas de esmalte colorido.
E me ocorreu que talvez seja esta a única fantasia a que têm direito.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O DIMINUTIVO E A ESTILÍSTICA

Um textinho sobre os "inhos" JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas

Nossa língua é nossa pátria, e, sendo assim, algumas palavras revelam mais do nosso país do que um discurso sociológico.
Aliás, às vezes nem precisamos de uma palavra, basta um pedaço. O "inho" é um bom exemplo. Usamos esse sufixo para designar algo ou alguém pequeno, mas também algo ou alguém por quem temos carinho. Aliás, não por coincidência, a palavra carinho também acaba em "inho". Nossa bebida típica é o cafezinho, gostamos de um feijãozinho, e nossa seleção é canarinho.
Da minha infância até a adolescência, isso lá por meados dos anos setenta, era comum que os jogadores adotassem esse sufixo nos seus nomes. Lembro-me de Nelsinho, Joãozinho, Vaguinho, Adãozinho, Gatãozinho, Wilsinho e Toinzinho. Toninho então havia às pencas. Era preciso até recorrer a um complemento para que eles se diferenciassem um dos outros. Lembro-me agora de Toninho Guerrero, Toninho Metralha e até de um Toninho Vanusa.O "inho" deixa o nome ou apelido mais afetuoso, como se o jogador mantivesse ainda algumas características infantis. Não há nenhuma relação com o físico do nomeado, tanto que o Chulapa, apesar de ter quase dois metros, é chamado de Serginho. Provavelmente porque no seu jeito malandro há uma irresponsabilidade e uma alegria infantis. Por outro lado, ninguém chama Edmundo de Edmundinho. A sua irresponsabilidade não é infantil, não é simpática. Nas outras línguas, ou nações, não existe nada que se assemelhe ao "inho". Os ingleses colocam um "little" antes do nome ou um "y" depois, formando Little John ou Johnny, mas não é a mesma coisa. Os franceses podem recorrer ao composto Petit Jean, mas há um tanto de pompa nessa fórmula. Já os espanhóis tentam o Juanito, mas aquele áspero "t" quebra a doçura do apelido.
Joãozinho é um nome intraduzível. Tanto quanto a bandeira nacional, o hino brasileiro, a feijoada, o samba ou o drible, o "inho" é uma marca da brasilidade. Nenhuma outra seleção do mundo, nem mesmo a portuguesa, tem hoje um jogador com esse sufixo. Aliás, não tem e nem poderia ter: o "inho" carrega um quê de humor e de brejeirice que não combina com a severidade e com os bigodes lusitanos. Nossos "inhos" são inesquecíveis, a começar por Zizinho, o maior jogador da primeira metade do século. Mas há também Julinho, do Palmeiras; Coutinho, do Santos; Jairzinho, do Botafogo; Edinho, do Fluminense; Nelinho, do Cruzeiro; Toninho Cerezo, do Atlético-MG; Serginho, do São Paulo, e assim por diante. Ainda hoje o "inho" daria uma bela seleção. Pense em Edinho (Santos), Jorginho (São Paulo), Marinho (Guarani), Carlinhos (Lusa) e Serginho (Milan); Ricardinho (Cruzeiro), Juninho (Vasco) e Marcelinho (Corinthians); Ronaldinho (Grêmio), Ronaldinho (Internazionale) e Zinho (Palmeiras). Como técnico, escolha entre Carlinhos, Cabralzinho ou Candinho. Um time de nomes no diminutivo, mas que jogaria um futebol superlativo.
Mas creio que o destino do "inho" é a extinção. Dirigentes e empresários não gostam que seus contratados tenham nomes no diminutivo, e assim, para dar uma impressão de maior profissionalismo, vão surgindo os Alex Alves, os Marcus Assunção e os Fernando Diniz. Saem os "inhos", entram os sobrenomes. Como diria Cartola, "a vida é um moinho".
Moinho que, só por coincidência, também termina em "inho".

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/27841-penultima-flor-do-lacio.shtml

sábado, 25 de agosto de 2012

Norma Gramatical Brasileira

NOMENCLATURA GRAMATICAL BRASILEIRA (NGB)
Uniformização e simplificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, de acordo como trabalho
aprovado pelo Sr. Ministro Clóvis Salgado, elaborado pela Comissão designada na Portaria
Ministerial número 152/57, constituída pelos Professores Antenor Nascentes, Clóvis do Rêgo
Monteiro, Cândido Jucá (filho), Carlos Henrique da Rocha Lima e Celso Ferreira da Cunha, e
assessorada pelos Professores Antônio José Chediak, Serafim Silva Neto e Sílvio Edmundo Elia.
Rio de Janeiro, 1958.
Exmo Sr. Ministro de Estado da Educação e Cultura
A Comissão, abaixo assinada, tem a honra de passar às mãos de V.Ex.a o Anteprojeto
de Simplificação e Unificação da Nomenclatura Gramatical Brasileira, já em redação final.
O presente Anteprojeto é resultante não só de um reexame, pela Comissão, do
primitivo, mas ainda do estudo, minucioso e atento, das contribuições remetidas à CADES pela
Academia Brasileira de Filologia do País, pela Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul e,
individualmente, por numerosos e abalizados professores de Português.
Releva salientar que a Comissão, ao considerar as modificações propostas, teve
sempre em mira a recomendação de V.Ex.a constante da Portaria Ministerial nº 152- “uma
terminologia simples, adequada e uniforme”- bem como atender ao tríplice aspecto fixado nas
Normas Preliminares de Trabalho:
a) a exatidão científica do termo;
b) a sua vulgarização internacional;
c) a sua tradição na vida escolar brasileira.
Agradecendo, mais uma vez, nesta oportunidade, a distinção e a confiança com, que
contemplou V.Ex.a, a Comissão renova a V.Ex.a os protestos de alto apreço e distinta
consideração.
Antenor Nascentes
Clóvis do Rêgo Monteiro
Cândido Jucá (filho)
Carlos Henrique da Rocha Lima
Celso Ferreira da Cunha
Assessores:
Antônio José Chediak
Serafim Silva Neto
Sílvio Edmundo Elia.
PORTARIA Nº 36, DE 28 DE JANEIRO DE 1959
O Ministro do Estado da Educação e Cultura, tendo em vista as razões que
determinaram a expedição da Portaria nº 152, de 24 de abril de 1957, e considerando que o
trabalho proposto pela Comissão resultou de minucioso exame das contribuições apresentadas
por filólogos e lingüistas, de todo o País, ao Anteprojeto de Simplificação e Unificação da
Nomenclatura Gramatical Brasileira, resolve:
Art.1º - Recomendar a adoção da Nomenclatura Gramatical Brasileira, que segue
anexa à presente Portaria, no ensino programático da Língua Portuguesa e nas atividades que
visem à verificação do aprendizado, nos estabelecimentos de ensino.
Art.2º - Aconselhar que entre em vigor:
a) para o ensino programático e atividades dele decorrentes, a partir do início do primeiro
período do ano letivo de 1959;
b) para os exames de admissão, adaptação, habilitação, seleção e do art. 91 a, partir dos que se
realizarem em primeira época para o período letivo de 1960.
Clóvis Salgado
DIVISÃO DA GRAMÁTICA: Fonética, Morfologia e Sintaxe.
INTRODUÇÃO: Tipos de Análise: Fonética, Morfológica e Sintática.
PRIMEIRA PARTE
Fonética
I – A FONÉTICA pode ser: Descritiva, Histórica e Sintática.
II – FONEMAS: vogais, consoantes e semivogais.
1. Classificação das vogais – Classificam-se as vogais:
a) quanto à zona de articulação, em: anteriores, médias e posteriores;
b) quanto ao timbre, em: abertas, fechadas
e reduzidas;
c) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, em: orais e nasais;
d) quanto à intensidade, em: átonas e tônicas.
2.Classificação de consoantes – classificam-se as consoantes:
a) quanto ao modo de articulação, em: oclusivas, constritivas: fricativas, laterais e vibrantes;
b) quanto ao ponto de articulação, em: bilabiais, labiodentais, linguodentais, alveolares, palatais
e velares;
c) quanto ao papel das cordas vocais, em: surdas e sonoras;
d) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, em: orais e nasais.
III – 1. Ditongos – Classificam-se os ditongos em: crescentes e decrescentes; orais e nasais.
2. Tritongos – Classificam-se os tritongos em: orais e nasais.
3. Hiatos.
4. Encontros Consonantais.
Nota: Os encontros – ia, ie, io, ua, eu, uo finais, átonos, seguidos ou não de s, classificam-se
quer como ditongos, quer como hiatos uma vez que ambas as emissões existem no domínio da
Língua Portuguesa: histó-ri-a e histó-ria; sé-ri-e e sé-rie; pá-ti-o e pá-tio; ár-du-a e ár-dua; tê-nu-e
e tê-nue; vá-cu-o e vá-cuo.
IV – Sílaba – Classificam-se os vocábulos, quanto ao número de sílabas, em: monossílabos,
dissílabos, trissílabos e polissílabos
V – Tonicidade:
1. Acento: principal e secundário.
2. Sílabas: átonas: pretônicas e postônicas; subtônicas; tônicas.
3. Quanto ao acento tônico, classificam-se os vocábulos em: oxítonas, paroxítonas e
proparoxítonas.
4. Classificam-se os monossílabos em: átonos e tônicos.
5. Rizotônico; arrizotônico.
6. Ortoepia.
7. Prosódia.
Nota: São átonos os vocábulos sem acentuação própria, isto é, os que não têm autonomia
fonética, apresentando-se como sílabas átonas do vocábulo seguinte ou do vocábulo anterior.
São tônicos os vocábulos com acentuação própria, isto é, os que têm autonomia fonética.
Pode ocorrer que, conforme mantenha, ou não, sua autonomia fonética, o mesmo vocábulo seja
átono numa frase, porém, tônico em outra. Tal pode acontecer, também, com vocábulos de mais
de uma sílaba: serem átonos numa frase, mas tônicos em outra.
SEGUNDA PARTE
Morfologia
Trata a Morfologia das palavras:
1. Quanto a sua estruturação e formação.
2. Quanto a suas flexões e
3. Quanto a sua classificação.
I - Estrutura das palavras:
a) Raiz; Radical; Tema; Afixo; prefixo e sufixo; Desinência: nominal e verbal; Vogal temática;
Vogal e Consoante de ligação.
b) Cognato.
II – Formação das palavras: 1 – Processo de formação de palavras: Derivação; Composição; 2 –
Hibridismo.
III – Flexão das palavras: quanto à sua flexão as palavras podem ser: variáveis ou invariáveis.
IV - Classificação das palavras: substantivos, artigo, adjetivo, numeral, pronome, verbo advérbio,
preposição, conjunção e interjeição.
I – Substantivos
1. Classifica-se os substantivos em: comuns e próprios; concretos e abstratos.
2. Formação do substantivo: primitivo e derivado; simples e composto.
3. Flexão do substantivo:
a) em gênero: masculino; feminino, epiceno; comum de dois gêneros; sobrecomum.
b) em número: singular e plural;
c) em grau: aumentativo; diminutivo.
II – Artigo
1. Classificação do artigo: definido, indefinido.
2. Flexão do artigo:
a) gênero: masculino e feminino;
b) número: singular e plural.
III – Adjetivo:
1. Formação do adjetivo: primitivo e derivado; simples e composto.
2. Flexão do adjetivo:
a) em gênero: masculino e feminino;
b) em número: singular e plural;
c) em grau: comparativo de igualdade; de superioridade (analítico e sintético); de inferioridade.
Superlativo: relativo (de superioridade de inferioridade); absoluto (sintético e analítico).
3. Locução adjetiva.
IV – Numeral:
1. Classificação do numeral: cardinal, ordinal, multiplicativo e fracionário.
2. Flexão do numeral: em gênero: masculino e feminino; em número: singular e plural.
V – Pronome
1. Classificação do pronome: pessoal: reto, oblíquo (reflexivo, não reflexivo); de tratamento;
possessivo; demonstrativo; indefinido; interrogativo; relativo.
Nota: Os que fazem as vezes de substantivos chama-se pronomes substantivos; os que
acompanham os substantivo, pronomes adjetivos.
2. Flexão do pronome:
a) em gênero: masculino e feminino.
b) em número: singular e plural.
c) em pessoa: primeira, segunda e terceira.
3. Locução pronominal.
VI – Verbo
1. Classificação do verbo: regular, irregular, anômalo, defectivo, abundante, auxiliar.
2. Conjugações: três são as conjunções: a primeira com o tema terminado em “A”; a Segunda
com o tema terminado em “E”; a terceira com o tema terminado em “I”.
Nota: O verbo “pôr” ( e os dele formados) constitui anomalia da 2ª conjugação.
3. Formação do verbo: primitivo e derivado; simples e composto.
4. Flexão do verbo:
a) de modo: indicativo, subjuntivo e imperativo;
b) formas nominais do verbo: infinitivo: pessoal (flexionado e não flexionado), impessoal;
gerúndio; particípio;9
c) de tempo: presente; pretérito: imperfeito (simples e composto); perfeito (simples e composto);
mais que perfeito (simples e composto); futuro do presente (simples e composto) e do pretérito
(simples e composto).
Nota: A denominação futuro do pretérito (simples e composto) substitui a de condicional (simples
e composto);10
d) de número: singular e plural;
e) de pessoa: três são as pessoas do verbo: 1ª, 2ª e 3ª;
f) de voz: ativa; passiva (com auxiliar, com pronome apassivador); reflexiva.11
5. Locução verbal.
VII – Advérbio:
1. Classificação do advérbio:
a) de lugar; de tempo; de modo; de negação; de dúvida; de intensidade; de afirmação;
b) advérbios interrogativos: de lugar, de tempo, de modo, de causa.
2. Flexão do advérbio: de grau: comparativo; de igualdade, de superioridade e de inferioridade;
superlativo absoluto (sintético e analítico); diminutivo.
3. Locução adverbial.
Notas:
a) Podem alguns advérbios estar modificando toda a oração.
b) Certas palavras, por não se poderem enquadrar entre os advérbios terão classificação à parte.
São palavras que denotam exclusão, inclusão, situação, designação retificação, afetividade,
realce, etc.
VIII – Preposição:
1. Classificação das preposições: essenciais, acidentais.
2. Combinação.
3. Contração.
4. Locução prepositiva.
IX – Conjunção:
1. Classificação das conjunções: coordenativas: aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas,
explicativas; subordinativas: integrantes, causais, comparativas, concessivas, condicionais,
consecutivas, finais, temporais, proporcionais e conformativas.14
Nota: As conjunções que, porque, porquanto, etc., ora têm valor coordenativo, ora subordinativo;
no primeiro caso, chama-se explicativas, no segundo, causais.15
2. Locução conjuntiva
X - Interjeição
Locução interjectiva.
XI – 1. Palavra.
2. Vocábulo.
3.Sincretismo. Sincrético.
4. Forma variante.
5. Conetivo.
TERCEIRA PARTE
Sintaxe
A – Divisão da sintaxe:
a) Concordância: nominal e verbal.
b) Regência: verbal e nominall
c) Colocação.
Nota: Na colocação dos pronomes oblíquos, adotem-se as denominações de próclise, mesóclise
e ênclise.
B – Análise Sintática:
I – Da Oração:
1. Termos essenciais da oração: sujeito e predicado.
a) Sujeito: simples, composto, indeterminado; oração sem sujeito.
b) Predicado: nominal, verbal, verbo-nominal.
c) Predicativo: do sujeito e do objeto.
d) Predicação verbal: verbo de ligação; verbo transitivo (direto e indireto); verbo intransitivo.
2. Termos integrantes da oração:
a) complemento nominal;
b) complemento verbal: objeto (direto e indireto);
c) agente da passiva.
3. Termo acessórios da oração:
a) adjunto adnominal;
b) adjunto adverbial;
c) aposto.
4. Vocativo
II – Do período:
1. Tipos de período: simples e composto.
2. Composição do período: coordenação e subordinação.
3. Classificação das orações:
a) absoluta;
b) principal;
c) coordenada: assindética; sindética: aditiva, adversativa, alternativa, conclusiva, explicativa;
d) subordinada; substantiva: subjetiva, objetiva (direta e indireta), completiva-nominal, apositiva,
predicativa; consecutiva, concessiva, condicional, conformativa, final, proporcional e temporal.18
As orações subordinadas podem apresentar-se, também, com os verbos numa de suas
FORMAS NOMINAIS; chamam-se, neste caso, reduzidas: de infinitivo, de gerúndio, de
particípio, as quais se classificam como as desenvolvidas: substantivas (subjetiva etc.), adjetivas
adverbiais (temporais etc.).
Notas: 1. Coordenadas entre si podem estar quer principais, quer independentes quer
subordinadas (desenvolvidas ou reduzidas).
2.Devem ser abandonadas as classificações:
a) de lógico e gramatical, ampliado e inampliado, completo e incompleto, total, parcial, para
qualquer elemento oracional;
b) de oração quanto à forma (plena, elítica etc.), quanto ao conetivo (conjuncional, não
conjuncional, relativa).
3. Na classificação da oração subordinada bastará dizer-se: oração subordinada substantiva
(subjetiva etc.); oração subordinada adjetiva (restritiva, explicativa); oração subordinada
adverbial (causal etc.).
APÊNDICE
I – Figuras de Sintaxe – Anacoluto, elipse, pleonasmo e silepse.
II – Gramática Histórica – Aférese, altura (som), analogia, apócope, assimilação (total, parcial,
progressiva, regressiva), consonantismo, dissimilação (total, parcial, progressiva, regressiva),
ditongação, divergente, elisão, empréstimo, epêntese, etimologia, haplologia, hiperbibasmo,
intensidade (som), metáfase, mesalização, neologismo, palatalização, paragoge, patronímico,
prótese, síncope, sonorização, substrato, superstato, vocalismo, vocalização.
III – Ortografia – Abreviatura, alfabeto, dígrafo (grupo de letras que representam um só fonema.
Ex.: ch (chave), gu (guerra), qu (quero), rr (carro), lh (palha), ss (passo), nh (manhã);21
homógrafo, homônimo, letra (maiúscula e minúscula). Notações léxicas: acento agudo, grave,
circunflexo, apóstrofo, cedilha, hífen, til e trema, sigla.
IV – Pontuação – Aspas, asteriscos, colchete, dois-pontos, parágrafo(§), parênteses, ponto-deexclamação,
ponto-de interrogação, ponto-e-vírgula, ponto-final, reticências, cedilha, travessão,
vírgula.
V – Significação das palavras – Antônimo, homônimo, sentido figurado.
VI – Vícios de linguagem – Barbarismo, cacofonia, preciosismo, solecismo.

FIGURAS DE LINGUAGEM


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Variações linguísticas

As LíNgUaS pOrTuGuEsAs


Discurso


Roberto Pompeu de Toledo

Dezesseis palavras
que choram

Uma frase do governador do Distrito
Federal transforma-o em réu de duplo
crime: racismo e atentado ao idioma

 
O governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, deve ser condenado por crime de racismo? Desde o último dia 31, quando, em evento na cidade-satélite de Brazlândia, ele qualificou como "crioulo" um cidadão que o hostilizava, a questão está posta. O PT de Brasília, acérrimo adversário do governador, iniciou processo contra ele. Se as palavras de Roriz merecem ou não condenação será o nosso tema, mas antes detenhamo-nos na frase por inteiro, que aqui vai reproduzida em maiúsculas e num parágrafo à parte, para lhe realçar o sabor:
– ALI ESTÁ UM CRIOULO PETISTA QUE EU QUERO QUE VOCES DÃO UMA SALVA DE VAIA NELE.
A frase, mesmo que não contivesse o "crioulo", já seria um assombro. Suas dezesseis palavras configuram um pandemônio sintático. Do primeiro "que" ao "nele" do final, passando pelo "dão" em vez de "dêem" e à "vaia" em vez de "vaias", há atentados de toda ordem contra a língua portuguesa. O conjunto todo é de levar o professor Pasquale a nocaute. Menção de honra vai para a "salva de vaia". A "salva" que se conhece é de palmas. Roriz inventou a "salva de vaias" – ou, melhor ainda, "de vaia". De todo modo, o cerne da questão está no "crioulo". Ele revelaria não apenas um transgressor da gramática, mas da lei. Vejamos as linhas de defesa de que disporia o governador.
Crioulo, ao contrário do que geralmente se pensa, não quer dizer "negro". Ou melhor: na origem, não quer dizer negro. Quer dizer: "cria da terra", "filho do local". A palavra proviria de "criadouro". Com o tempo, perdeu um "d" aqui e um "r" ali, ganhou um "l" e virou crioulo. No Brasil da escravidão, o crioulo se opunha ao africano. Este era o escravo ainda de primeira geração, nascido na África. O crioulo era o já nascido no Brasil, filho de uma escrava que deu cria. Esse sentido se aparenta ao dos países hispano-americanos, onde "criollo", nos tempos coloniais, era o habitante nascido na colônia – o branco, não o negro nem o índio –, em oposição ao que nascera na Espanha. Também se aproxima do "créole" francês, palavra usada para identificar o dialeto falado nas colônias, mistura do francês com línguas locais. Ou seja: uma língua criada no local.
Dito isso, temos um primeiro argumento em favor de Roriz. Ele não estaria dizendo "Ali está um negro petista etc.", mas sim "Ali está um filho desta terra..." Já que estamos no afã de refazer-lhe a frase, poderíamos ir além, e corrigi-la também no português, para ficar mais palatável aos julgadores. Ela ficaria assim, igualmente em maiúsculas e num parágrafo isolado:
– ALI ESTÁ UM FILHO DESTA TERRA, POR SINAL PETISTA, PARA O QUAL PEÇO QUE VOCES DESTINEM UMA SONORA VAIA.
Não pegou? Tal linha de defesa soa forçada? Há outra. A de que tudo não teria passado de brincadeira. Esta é, na verdade, a linha que está sendo usada por Roriz. Ele conheceria o "crioulo" em questão, e a palavra com que se referiu a ele representaria uma fórmula carinhosa. O governo do Distrito Federal até identificou o destinatário da frase. Seria um certo Marinalvo Nascimento, cabo eleitoral do deputado distrital Edimar Pirineus, atual secretário do Desenvolvimento Econômico de Roriz. Outro secretário do governo, Wellington Moraes, da Comunicação, explicou: "O governador sempre brinca desse jeito com as pessoas mais simples".
Eis-nos diante de argumento muito usado pelos acusados de racismo verbal. "Crioulo", assim como "negão", seria manifestação de carinho. Talvez existam, mas são sem dúvida raros os casos em que um negro manifesta o apreço a um branco chamando-o de "brancão". Mas branco chamar negro de "negão" pode. Acresce, no caso de Roriz, que ele reserva suas fórmulas carinhosas, segundo seu secretário de Comunicação, às "pessoas mais simples". As pessoas mais complexas, infere-se, delas são dispensadas.
Aceitemos as alegações do governador. Era um amigo, e foi brincadeira. Mas o amigo, o tal Marinalvo Nascimento, não é um correligionário? Sem dúvida. É até cabo eleitoral de um próximo companheiro do governador. Por que cargas-d'água, então, foi Roriz chamá-lo de petista? E por que foi pedir uma vaia para ele? Nesse ponto, sempre no afã de oferecer linhas de defesa ao governador, resta alegar que ele foi vítima de dois lapsos de linguagem. Quando disse "petista", o que quis dizer é que não se tratava de um petista. Faltou o "não", só isso. Quanto às vaias... Já não se disse acima que quem diz "salva" quer dizer sempre "salva de palmas"? Pois foi isso que o governador quis dizer. Por um lapso, trocou "palmas" por "vaias", mas o que quis dizer mesmo foi "palmas". O que nos leva à última correção, para que a frase enfim se revista de sua definitiva forma e real significado:
– ALI ESTÁ UM FILHO DESTA TERRA, ALGUÉM LONGE DE SER UM PETISTA, PARA O QUAL PEÇO QUE VOCES DESTINEM UMA SALVA DE PALMAS.
Conclusão: Roriz deve ser condenado não por racismo, mas porque não sabe o que diz. 
http://veja.abril.com.br/130202/pompeu.html