domingo, 16 de setembro de 2012

VERBOS - CONCORDÂNCIA/ CONJUGAÇÃO

Exterminador do futuro

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ombudsman/63982-exterminador-do-futuro.shtml 

"Quase derrubei o café ao ler 'Cotidiano'. Na página 4, a manchete era 'Servidor que manter greve ficará sem reajuste, diz governo'. Mal refeito do susto, na página seguinte, vi a linha-fina: 'Mais conhecido matador da história de São Paulo, ex-PM afirma que, quanto menos se expor, melhor'. Estaria a Folha liderando algum movimento para eliminar o modo subjuntivo do nosso idioma?"
O parágrafo acima foi montado com trechos de 24 mensagens de leitores indignados com erros de gramática no jornal.
A dificuldade com o futuro do subjuntivo gerou dois "erramos" e foi tema de Pasquale Cipro Neto na quinta-feira. No mesmo dia, porém, um "Tráfico virtual" entrou no lugar de "Tráfego virtual", o que suscitou novas reclamações.
Por que o jornal erra tanto? A função do "revisor", do encarregado apenas de corrigir, foi eliminada há anos. Os redatores fazem uma segunda leitura dos textos, mas precisam também colocá-los no tamanho adequado, dar títulos, fazer legendas, escolher fotos etc.
Há um Programa de Qualidade, com cinco pessoas, que promove ações para melhorar o conhecimento de gramática na Redação. É utópico pensar que um jornal diário terá "erro zero", mas o leitor está certo ao exigir que ao menos os "grotescos", aqueles que doem no ouvido, sejam eliminados.

Verbos CONCORDÂNCIA

CERTA POBREZA 
Danuza Leão
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/danuzaleao/1147013-certa-pobreza.shtml

Outro dia tive que ir ao centro da cidade, onde não ia havia anos. Conheci esse centro quando ainda era criança e tinha chegado do Espirito Santo para viver no Rio. Na zona sul não havia lojas, ainda não existiam as butiques, e uma vez por semana ia com minha mãe ao centro.
Era onde se faziam compras, desde as mais banais, até as mais importantes, que na época era um par de sapatos ou o tecido para fazer um vestido. Não existiam vestidos prontos, e cada família tinha sua costureira. Comprava-se o figurino (revista de moda), a costureira dizia de quantos metros precisava, fazia-se uma prova, e um dia chegava um embrulho de papel cor de rosa, fechado com alfinetes --o durex ainda não tinha sido inventado--, trazendo o vestido.
Era uma emoção ir ao centro, onde havia um comércio que me parecia o luxo dos luxos. Havia até lojas que vendiam casacos de pele, e imagino que fazia frio no Rio para usar peles --devia fazer--, pois as vitrines das lojas Canadá e Sibéria mostravam as mais lindas.
Depois das compras, um lanche na Colombo, e a volta para casa de bonde. Era um dia completo, de total felicidade. Foi lá que pela primeira vez tomei um sundae e comi uma coxinha de galinha; em Vitória não existiam essas coisas chiques.
O mundo mudou, anos não ia ao centro, mas tive que ir, semana passada. Passei pelas mesmas ruas e me deu uma tristeza tão grande que era melhor não ter ido.
Fui parar no largo da Carioca; é um largo, como diz a palavra, onde hoje as lojas são barraquinhas, e havia uma que, para animar, tocava um som bem alto. Das músicas, nem vou falar. Mas o que me impressionou mesmo foi a quantidade de pessoas que circulava por ali. Eram muitas e todas, absolutamente todas, muito pobres.
Em qualquer bairro do Rio existe gente pobre, mas não tantas assim, nem tão pobres. Era uma miséria absoluta, que se via nas roupas, nos sapatos --a maioria com uma sandália havaiana já bem usada-- e nos rostos. Muitas lanchonetes pela rua, e numa delas o cartaz:
"Arroz, feijão e batata frita por R$ 10,50".
Fiquei pensando nos pobres do Nordeste, que se veem na televisão e em alguns filmes brasileiros; eles moram em casebres com chão de terra batida, sempre muito bem varrido. E têm uma dignidade; não sei bem de onde ela vem, mas ela existe. Talvez por terem um pedacinho de chão só deles, talvez.
A pobreza urbana é agressiva; são mulheres com uma criança no colo, duas pela mão, levadas pelas mães porque não têm com quem ficar, adolescentes de short e camiseta que devem ser a única roupa que têm. Ninguém pedia esmola, todos estavam ali fazendo alguma coisa, trabalhando, encarando um bico qualquer, talvez de ambulante, talvez de ajudante de camelô.
E notei que apesar dessa miséria tão evidente, tão dramática --essas pessoas não pertenciam, seguramente, à tão falada classe C--, quase todas as mulheres, e as crianças que iam junto, tinham as unhas dos pés pintadas de esmalte colorido.
E me ocorreu que talvez seja esta a única fantasia a que têm direito.