Em
que se declara o modo e a linguagem dos tupinambás.
Ainda que os
tupinambás se dividiram em bandos, e se inimizaram uns com outros, todos falam uma
língua que é quase geral pela costa do Brasil, e todos têm uns costumes em seu
modo de viver e gentilidades; os quais não adoram nenhuma coisa, nem têm nenhum
conhecimento da verdade, nem sabem mais que há morrer e viver; e qualquer coisa
que lhes digam, se lhes mete na cabeça, e são mais bárbaros que quantas
criaturas Deus criou. Têm muita graça quando falam, mormente as mulheres; são
mui compendiosas na forma da linguagem, e muito copiosos no seu orar; mas
faltam-lhes três letras das do ABC, que são F, L, R grande ou dobrado, coisa muito
para se notar; porque, se não têm F, é porque não têm fé em nenhuma coisa que
adorem; nem os nascidos entre os cristãos e doutrinados pelos padres da
Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor, nem têm verdade, nem lealdade a nenhuma
pessoa que lhes faça bem. E se não têm L na sua pronunciação, é porque não têm
lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; e cada um faz lei a
seu modo, e ao som da sua vontade; sem haver entre eles leis com que se
governem, nem têm leis uns com os outros. E se não têm esta letra R na sua
pronunciação, é
porque não têm rei que os reja, e a quem obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem
ao pai o filho, nem o filho ao pai, e cada um vive ao som da sua vontade; para dizerem
Francisco dizem Pancico, para dizerem Lourenço dizem Rorenço, para dizerem
Rodrigo dizem Rodigo; e por este modo pronunciam todos os vocábulos em que
entram essas três letras.
(SOUSA, Gabriel
Soares de. Tratado descritivo do Brasil em 1587- Capítulo CL – Em
que se declara o modo e a linguagem dos tupinambás. In: VILLA, Marco
Antonio e OLIVIERI, Antonio Carlos. Cronistas do Descobrimento. São Paulo:
Ática, 1999, p. 144).
Num País Feliz
Belchior
Ainda não se ouvia o ai do sabiá
E nem Jaci sabia que ele assobiava lá
O índio ia indo, inocente e nu
E no cauim ninguém sentia a essência do caju
Não navegavam naus abaixo do equador
Aqui sem sonhos maus, não há anhanguá,
nem cruz nem dor
E o índio ia indo, inocente e nu
Sem rei, sem lei, sem mais, ao som do sol
e do uirapuru
Não navegavam naus abaixo do equador
E à terra chã, tupã descia sem pam de tambor
Ainda não se ouvia o dó das juritis
E eu já sonhava com a cor e o tom de algum paí
Num país feliz
E nem Jaci sabia que ele assobiava lá
O índio ia indo, inocente e nu
E no cauim ninguém sentia a essência do caju
Não navegavam naus abaixo do equador
Aqui sem sonhos maus, não há anhanguá,
nem cruz nem dor
E o índio ia indo, inocente e nu
Sem rei, sem lei, sem mais, ao som do sol
e do uirapuru
Não navegavam naus abaixo do equador
E à terra chã, tupã descia sem pam de tambor
Ainda não se ouvia o dó das juritis
E eu já sonhava com a cor e o tom de algum paí
Num país feliz