quinta-feira, 30 de maio de 2013

TREMA e REFORMA ORTOGRÁFICA

A DESPEDIDA DO TREMA,  Lucas Nascimento da Silva.


Estou indo embora. Não há mais lugar para mim. Eu sou o trema.Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüiféros, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos ecinqüentas anos.Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos!Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!...O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. Os dois pontos disseque eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé.Até o cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C inútil que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também tem aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?... A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W "Kkk" pra cá, "www"pra lá.Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que aliás, deveria se chamar TÜITER. Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo. Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa.Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas. E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar!...Nos vemos nos livros antigos. Saio da língua, para entrar na história.
Adeus,
Trema

O texto foi publicado em fevereiro de 2010 na revista Offline.
 

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Vocabulário e contexto


Naquele dia, depois de plomar fui ver drão o Zé queria ou não  ir lá comigo na clambagrulhar a ficha vi-o passando com a golipesta. Então dei conta que ele já tinha outro  programa.

   Então resolvi ir no tode até chegar na clamba, tudo bem. Estacionei  o zupinho bem nacinho , pus a chave no bolso e aproveitei ao chinta aquele  sol gostoso e o mar pli sulapente.

     Não parecia haver em glapo na clamba. Tirei  os gripes,  pus a bangola. Esta pli quieto ali que até me saltipou  mas, esqueci  loga das salipações no prazer de nadar  no tode. Não sei quanto tempo  fiquei  siltando, corristando, até  estopando  no mar.

     Foi no tode depois, na hora de voltar na clamba  que vi  que nem os gripes nem a bangoula não estavam mais onde deixara. Que fazer???

SCOTT,  Michael. Conscientização. São Paulo: CEPRIL, PUC-SP, 1986.

 

toponímia

Origem dos nomes dos municípios paulistas – Enio Squeff / Helder Perri Ferreira
 
Qual é o nome do primeiro município paulista, por ordem alfabética? Adamantina. No mesmo instante que você o conhece, você também começa a admirar o livro realizado por Enio Squeff e Helder Perri Ferreira, este primoroso trabalho de pesquisa e arte. E Adamantina, o primeiro no “dicionário”, já é um exemplo dessa pesquisa e dessa arte. Na pesquisa, porque já no primeiro nome os autores encontram divergências, desvios enganosos e uma deliciosa fofoca histórica – Adamantina teria sua origem no nome de uma mulher chamada Ada que seria amante de um dos diretores da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Outra hipótese é que a denominação das estações ferroviárias seguiria a ordem alfabética e na estação anterior teriam chegado ao Z o que obrigava a voltar à primeira letra do alfabeto – A. De qualquer forma, a explicação serve às duas versões – é a primeira letra e é também a primeira mulher no coração do dirigente ferroviário. A obra contém ilustrações e é resultado de consultas a dezenas de dicionários, autoridades em língua, velhos moradores e documentos de arquivos.
Fonte: Livraria Cultura