domingo, 4 de agosto de 2013

NOVA FORMA DE CURRICULUM

         

Sujeito Indireto


Paulo Leminski  Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indireto sujeito. Poema integrante da série Distraídos Venceremos. In: LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 199

Pontuação ( e oposição)

Opostos
No meio de uma poesia, o ponto saltou na vírgula com intenção de namorar.
Foi coisa bem passageira, dessas que ninguém liga, mas entre o ponto e a vírgula de pano pra manga da briga.
A vírgula, toda prosa, pro papo continuar. O ponto queria descanso, ficar de papo pro ar.
A vírgula esticava uma frase, lero-lero, coisa e tal, lá vinha o ponto correndo e botava um ponto final.
Foi indo, a vírgula ficou nervosa. Falou do direito e do avesso, falou do fim pro começo, berrou e perdeu o senso.
O ponto? Nem ligava pra ausência de consenso. Ponto é silêncio no texto. Imagine se muda de jeito!
A vírgula, na mesma hora, resolveu ir embora numa frase de efeito.
O ponto ficou zangado, achou de botar defeito: – Podes ir, tagarela – falou com voz amarela – Como és chata, criatura! Nem escritor te atura!
A vírgula, atrevida, optou pela pirraça: toda hora requebra de graça em qualquer frase sentido. O ponto, quando ela passa, esquece de lado o passado, fica todo derretido.
O poeta investiga as razões da eterna briga: os opostos se atraem, querem sempre se juntar. Não há sem franqueza, nem feiúra sem beleza e a sorte depende do azar.
(Ciça Fitipaldi)

Revista sobre cultura, literatura, língua

ENTENDA O HINO NACIONAL

Sobre a cultura dos SANTOS


Ô, meu santo


Ivan Angelo | 25/10/2006
Meu São Judas das causas impossíveis, obrigado por ter atendido a três pedidos que para mim seriam inalcançáveis sem sua voz poderosa junto ao Pai. Primeiro, me livrou das dívidas que me faziam escorregar ladeira abaixo na vida; segundo, me deu um casamento com um homem que não bebe, não me trai e não me bate, logo eu, meu santo, que já não era nova e tinha um filho virando problema; e, terceiro, construiu nossa casa, tijolo por tijolo abençoado, mas agora, meu santo, me ouve mais uma vez, pede por mim ao Pai mais uma graça, arranja um emprego pro meu marido e tira meu filho da mão do tráfico, porque lá, em bairro de pobre, é só o que se vê, marido sem trabalho e filho prestando vestibular pra Febem.

Meu santo padroeiro dos funcionários, continuo a esperar a graça que ainda não recebi, está lembrado? Tirar aquele chefe do meu caminho: me mude de seção, ou mude ele. Vim antes do dia 28 porque no ano passado tinha 350 000 pessoas pedindo, e eu acho que foi por isso que não fui ouvido.

Agradeço, meu São Judas Tadeu e meus outros santos protetores, agradeço as graças alcançadas: trabalho, saúde para Lurdinha, Rute, Quiqui, Ju e proteção para a minha casa e para a da minha mãe, proteção para o carro de Lurdinha e Rute contra roubo, que não podemos ficar sem ele, é a nossa condução, e também peço um dinheirinho extra para pagar as dívidas da prestação atrasada, senão a gente perde a televisão e o microondas, e peço também pra nos livrar da inveja e afastar os nossos inimigos e ajudar o namoro da minha filha Rute, sendo o mais urgente a prestação.

Peço, apóstolo Judas, um dos doze, chamado Tadeu, primo-irmão de Jesus, que o nomeou para as causas mais difíceis, irmão do apóstolo Tiago, o primeiro bispo de Jerusalém, sobrinho muito querido de José e Maria, filho de Maria Cleofas, prima de Maria, uma das mulheres que estavam ao pé da Cruz, evangelizador da Galiléia e de Samaria, tio de João, o Evangelista, peço que, com o teu prestígio, por tantos serviços prestados e tão poderoso parentesco, me dês proteção contra graves ameaças, tais como a de seqüestro da minha pessoa e de meus familiares, que já por duas vezes quase se consumou, de assaltos a mão armada nas esquinas, dos quais escapei por ter blindado o carro, de concussão dos fiscais do governo que rondam minha empresa, de piratas que copiam cartões de banco, de gatos que subtraem saldos bancários via internet, de quadrilhas que promovem arrastões em condomínios – ô, meu santo, dá-me a proteção de que por ser rico não sou menos merecedor.

Meu santo das causas trabalhosas, por muitos anos o sonho da nossa família foi ter uma casa própria, ficarmos livres do aluguel e da ameaça de um dia dormir na rua, e com a vossa ajuda conseguimos o financiamento do CDHU, mas as dificuldades foram muitas, e tantas, e tais que meu marido ficou doente, caiu da laje, e o dinheiro dele apoucou, o do meu filho Tadeu, cujo nome botei em vossa homenagem, meu santo dos impossíveis, também apoucou porque ele se casou já em via de ter filho, e o dinheiro que a Terê dava em casa também se apequenou, porque ela perdeu o amigo que ajudava ela, e o meu do mês é cada vez menos em virtude de ir perdendo serviço, e então não pudemos mais pagar a casa, a dívida foi crescendo, crescendo, e agora está impossível de tirar o atraso, com juro em cima de juro, por isso nós pedimos, meu São Judas, que dê certo a negociação dos juros de 12% para 3%, sem o que nós vamos ter de desistir e ir para o olho da rua.

São Judas, primo de Jesus, que reverenciamos no dia 28, véspera da eleição, juntai forças com Santa Rita de Cássia, Santo Expedito, Santa Edwiges, Santo Ambrósio, Santa Teresinha, Senhora Aparecida e São José, para nos ajudar a escolher um presidente que olhe por nós, porque o que eles querem nós sabemos e não sabemos se eles sabem o que nós queremos, amém.

Crônica sobre as cantigas folclóricas


Cantigas de arrepiar

Walcyr Carrasco | 18/10/2006

Ando assustado com as cantigas infantis! O nenê está no berço, brincando com o chocalho. Mamãe canta com voz melosa: "Boi, boi, boi, boi da cara preta / Pega esse menino / Que tem medo de careta!"

Eu não sei como o bebê não pula sobre as grades de susto! Mamãe está chamando um boi furioso para levá-lo? Comentei com um amigo, que revidou:

– A criança não entende as palavras.

Será? A certa altura começa a saber o que é mamãe, papai. Acabará descobrindo também a ameaça do boi malvado! Ou da Cuca, como em outra doce cantiga de ninar: "Dorme, nenê / Que a cuca vem pegar..."

A Cuca é tão terrível que virou vilã de um livro de Monteiro Lobato. Em O Saci, a menina Narizinho é seqüestrada pela dita-cuja e salva depois de mil peripécias de seu primo Pedrinho. Na série de televisão, tornou-se personagem constante, sempre em guerra com os heróis do Sítio do Picapau Amarelo. No livro e na televisão, a Cuca sempre é derrotada. No berço, nunca! A mãe canta, canta, e a criancinha aterrorizada espera a malvada! Deve dormir de susto, coitada!

E as de roda? Há uma simplesmente horrenda: "Atirei o pau no gato-to / Mas o gato-to / Não morreu-reu-reu / Dona Chica-ca-ca / Admirou-se-se / Do berrô, do berrô / Que o gato deu / Miaaaau!".

Ao terminarem, as crianças se agacham, rindo. Do quê?, me pergunto. Acaso é engraçado ser cruel com um gato? Cantar o berro? Como se devesse ter perdido as sete vidas com a pancada? Qualquer associação de defesa dos animais concordaria com minha surpresa! Mais que isso: qualquer pessoa bem-intencionada!

Na clássica Ciranda, Cirandinha, a certa altura vêm estes versos: "O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou / O amor que tu me tinhas / Era pouco e se acabou".

É uma ode à rejeição. Também à intransigência. Ao comparar o afeto com vidro, dá a impressão de que os laços não podem ser refeitos. Acabou, acabou! Mas não é importante ensinar que é preciso preservar os sentimentos, perdoar as faltas alheias?

Confesso: foi um leitor quem me abriu os olhos. Escreveu-me falando de sua experiência. Mora nos Estados Unidos e trabalha como baby-sitter. Começou a cantar Boi da Cara Preta para o menino da casa, e o pimpolho adorava! A mãe pediu para traduzir. Só então caiu em si. As cantigas americanas, segundo disse, são doces e repletas de ternura. Como explicar que estava chamando um boi bravo a uma americana capaz de processá-lo por tortura mental? Acabou sem contar o que dizia a canção. Surpreendeu-se:

– Será que desde o começo não estamos ensinando a linguagem do medo?

Não preciso ser experto em pedagogia. Qualquer professor que entrasse em uma classe do maternal e ameaçasse os alunos com bichos furiosos ou monstros perderia as aulas. Muitas crianças seriam remetidas ao psicólogo para se recuperar do choque. Mães, pais, babás acham lindo chamar a Cuca! Não é uma contradição?

Houve certa vez um movimento para mudar as letras. A reação foi de revolta por parte de quem acreditava que a tradição não podia ser mexida.

Temo estar sendo radical. Mas, ao refletir sobre as cantigas, sinto um travo de inquietude. Surgiram há muito tempo, em uma época em que a educação se fazia com ameaças e castigos. Hoje tudo mudou. Crianças merecem cantar sonhos e felicidade. Para que crescer com medo de monstros, achar divertido atirar o pau no gato? Deixar que os pequenos espíritos infantis se quebrem como vidro? Quem sabe a capacidade de amar ficará para sempre comprometida.

 


http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-1979/meu-santo

Crônica sobre o nome dos bairros


Deixem estar

Ivan Angelo | 16/08/2006

Largo da Batata... Viriam aqui comerciar os batateiros de antigamente? E era tanta batata assim? Bairro do Limão... Haveria ali, no passado, limoeiros perfumando as várzeas e encostas, durante a florada? Viaduto do Chá... Que espécie de chá seria, e quem o consumia naqueles tempos cafeeiros? Freguesia do Ó: não um espanto, como pode parecer, mas uma invocação...

Tenho muita simpatia pelos antigos nomes de lugares na cidade, não escamoteados ainda pela bajulação dos vereadores e administradores, que trocam denominações evocativas e históricas por nomes, muitas vezes, de poderosos sem mérito e familiares desconhecidos. Sim, devemos homenagear figuras históricas, mas por que não em ruas, praças, pontes e viadutos novos? Na cidade que descuida da memória, perdemos não só prédios históricos, mas nomes também. Deixem estar os nomes.

Já perdemos tanta poesia e graça por culpa de reformadores... A Rua Triste e a Rua Alegre corriam paralelas em Santa Ifigênia, uma ia para o cemitério, a outra, para as alegrias... Hoje chamam-se Cásper Líbero e Brigadeiro Tobias. Felizmente ainda existem a Estrada das Lágrimas, a Rua do Bosque, o Largo da Memória, a Rua Tanquinho... Perdemos referências históricas. O Largo da Forca, onde ficava a última forca da cidade, virou Praça da Liberdade; o Largo do Pelourinho é agora de Sete de Setembro; o Pátio da Cadeia virou Praça João Mendes.

Nomes divertidos sumiram, alguém deve ter pensado que não ficavam bem numa capital de grande destino. O Beco dos Chifres, também referido como dos Cornos, ficava na região de um antigo matadouro e hoje se chama Álvares Machado. O Beco do Mata-Fome tornou-se Rua Araújo.

Não é saudosismo, porque esse inventário de perdas nos mostra que perdemos até o que nunca tivemos, o que já não tínhamos quando aqui chegamos, há duas ou três gerações. Já não eram nossos nomes de ruas e lugares que talvez nos contassem alguma coisa sobre o que fomos antes de sermos.

Proclama-se a República e oportunamente desaparecem as ruas do Imperador, da Imperatriz, da Princesa, do Príncipe, do Conde d'Eu, trocados por nomes republicanos; aparece a Praça da República.

À parte o oportunismo político, seria bom que alguns nomes tivessem sido preservados, pois nos remeteriam a uma época em que outras pessoas andaram pelos mesmos caminhos e deram a eles nomes que indicavam um destino, ensinavam o melhor rumo a seguir, marcavam referências nos trajetos. Se havia uma bica, era a rua da biquinha, se havia uma igreja, era a da igreja tal.

Assim, a Rua da Caixa d'Água, onde havia o reservatório, virou Barão de Paranapiacaba; a Estrada da Água Branca, que levava para o sítio do mesmo nome e para Jundiaí, tinha um significado que Rua Turiaçu não tem; a Rua do Rosário levava para a Igreja do Rosário; a Rua Baixa de São Bento informava o que 25 de Março não informa. Quando se abriu o bairro de Santa Ifigênia, a Rua dos Bambus era a principal, hoje é a Avenida Rio Branco. E a Rua do Jogo da Bola, hoje Benjamin Constant – que jogo seria aquele que dava nome a uma rua?

Em compensação, outras mantêm o nome, embora a coisa indicada já não exista. Porto Geral era o nome de um beco que levava ao porto do rio, quando por ali passava o Tamanduateí, na sétima volta do seu serpenteio pela baixada. Rua do Lavapés, onde havia um riacho em que os viajantes lavavam os pés antes de entrar na cidade. Rua das Palmeiras... que é delas? Perdizes, Casa Verde, Limão, Pinheiros... O tempo comeu a senhora criadora de perdizes, as irmãs solteironas da Casa Verde, a chácara dos limoeiros, as araucárias dos morros... – mas as palavras, essas ficaram, teimosas, insinuantes.

Quem pensa nessas coisas transita pela cidade com um discreto sentimento de perda.

A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NA ÁREA DE ADMINISTRAÇÃO



MARTINS, Vera Lucia Bianchini;  MONTEIRO, Jucilene A. Arruda
fonte: http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/article/view/459/356

INTRODUÇÃO

Interessados em chamar a atenção dos professores, dos profissionais de comunicação e dos estudantes sobre a real importância da Língua Portuguesa, os estudiosos do assunto têm realizado, no Brasil, vários estudos, seminários e encontros, sendo que, em 1999, foi realizado pela Academia Brasileira de Letras (ABL), em conjunto com o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), um seminário sobre os desafios e soluções referentes à Língua Portuguesa, o qual teve a participação de acadêmicos ilustres como Lygia Fagundes Teles e o Presidente da  ABL, Sr. Arnaldo Niskier. Em uma pesquisa efetuada pelo CIEE, foi constatado que 7 0% dos alunos de Administração baseiam sua formação em apostilas reproduzidas na própria faculdade. Vários jornais têm mostrado essa preocupação. A Folha de São Paulo evidenciou, em muitas de suas reportagens, que o estudante universitário lê pouco e, quando lê, tende a se limitar às apostilas, aos resumos e aos capítulos xerocopiados dos livros.

Na maioria das vezes, há também uma grande deficiência em redação, envolvendo tanto os erros gramaticais quanto a deturpação e deformação de  conceitos e fatos.

No intuito de auxiliar os estudantes e profissionais de administração e ainda criar subsídios para a mudança desse perfil é que este trabalho foi realizado. Ele possui como objetivo principal conscientizar os profissionais da área de  administração sobre a importância da correta utilização da língua materna em seu cotidiano, aspecto este que influencia não só a imagem da empresa em que atua, como também a sua própria imagem como profissional e cidadão brasileiro.

Para tanto, foram desenvolvidos de maneira lógica e objetiva, os seguintes tópicos:

_ A Língua Portuguesa nos processos de recrutamento, seleção, admissão, treinamento e demissão;

_ A Língua Portuguesa x Imagem x Qualidade Total;

_ A importância da adequada abordagem nas redações comerciais;

_ A linguagem como fator de venda de imagem.

Morin (1995, p. 81), citado por Maria Cândida Moraes no livro O Paradigma Educacional (1999, p. 72), afirma: “Eu considero impossível conhecer as partes sem conhecer o Todo, assim como conhecer o Todo sem conhecer particularmente as partes”. É uma concepção sistêmica. A partir desse conceito, chega-se à conclusão de que existe um sistema (para este trabalho, a empresa). Esse sistema é formado por partes que se integram e se complementam entre si (setores, departamentos e  colaboradores).

O sistema como um todo é representado por suas partes individualmente ou em conjunto, ou seja, a sua imagem dependerá dessas partes e o impacto externo será determinado pela atuação das partes. Sendo assim, pode-se ilustrar o pensamento acima com o diagrama a seguir:


Imagem    SISTEMA  (Empresa)

Deptos. Setores Colaboradores

Resultado(Impacto)

Feedback (resposta externa positiva ou negativa)

 

 


4 A Língua Portuguesa nos Processos de Recrutamento, Seleção, Treinamento, Admissão e Demissão

Sabe-se que, na administração de uma empresa, a comunicação é extremamente importante uma vez que todas as informações no âmbito organizacional devem ser transmitidas com clareza e objetividade, de modo que não gerem dúvidas aos receptores das mensagens. Especificamente no que tange à Administração de Recursos Humanos,   percebe-se a grande e peculiar importância da língua materna.

O recrutamento de pessoal consiste em procedimentos pelos quais a empresa tem como objetivo atrair a mão-de-obra de que necessita. Isso pode ser feito por intermédio de diversas fontes, tais como: escolas, agências de emprego, anúncios em jornais, rádio, televisão, internet e similares. Um dos meios mais utilizados para atrair candidatos são os anúncios efetuados pela imprensa escrita, devido à sua praticidade. Entretanto, a redação do anúncio deve ser clara e conter informações essenciais para atrair os candidatos mais desejáveis. Para tanto, a pessoa do anunciante deverá demonstrar domínio de vocabulário, utilizar-se de palavras e frases dispostas corretamente, evitando, dessa forma, a disseminação de dúvidas e incoerências na mensagem.

Segundo o Prof. Eli Rozendo (1980, p. 35), a linguagem é uma fonte de muitas falhas na comunicação, e o desconhecimento do significado correto de uma palavra por parte do receptor pode levar à incompreensão e ao fracasso de toda a mensagem. De outra forma, se o emissor faz uso de uma palavra sem ter certeza do seu significado, pode produzir uma mensagem inteiramente diferente da que deseja transmitir.


Ainda no que se refere ao processo de recrutamento, a maneira como a mensagem for transmitida será a responsável pelos candidatos advindos dessa procura, sendo que uma mensagem clara e objetiva atrairá candidatos realmente “atinentes” ao cargo em questão, enquanto que, se a mensagem gerar dúvidas devido à incoerência ou à falta de objetividade, poderá atrair candidatos com perfis profissionais alheios aos que o cargo necessita. Tal fato causaria perda de tempo e

transtornos, o que poderia ser evitado com a correta utilização da Língua Portuguesa, com um vocabulário adequado e com palavras bem empregadas e frases bem formuladas.

O mesmo raciocínio deverá ser utilizado nos processos de seleção, treinamento, admissão e demissão de empregados, ou seja, faz-se necessário um cuidado especial na transmissão de mensagens oriundas dos processos de comunicação organizacional, sejam essas mensagens transmitidas de forma oral ou escrita, a fim de que não causem dúvidas, transtornos e/ou constrangimentos para ambas as partes (empregado e empregador), pois a forma como essa mensagem é  transmitida, poderá, também, influenciar negativa ou positivamente a imagem da organização.

 

Língua Portuguesa x Imagem x Qualidade Total

Vive-se, atualmente, em busca da qualidade total em produtos e serviços. Pode-se deduzir, então, que uma empresa que objetiva alcançar a qualidade total não poderá transmitir uma imagem negativa a seus clientes, ou seja, esse tipo de impacto poderá causar à sua clientela uma rejeição por seus produtos e/ou serviços.

 
  Pode-se assim concluir que há uma ligação intrínseca entre a imagem da empresa e a busca da qualidade total dessa organização. A Língua Portuguesa como um todo está amplamente ligada a esses dois fatores, já que há uma relação de interdependência entre ela e a imagem, no que concerne às mensagens escritas e  orais emitidas pela empresa.

A mensagem será causadora de um impacto em todos que a receberem. Esse impacto (positivo ou negativo) refletirá a imagem da organização. Sendo assim, a imagem da empresa depende de seus dirigentes e colaboradores. Afinal, como explicar um diretor escrevendo em uma carta comercial: “se houverem perspectivas”, “estou enviando”, “a reclamação foi efetuada junto ao órgão competente” ou “a nível de...” ou mesmo verbalizando tais expressões? Fica aqui um questionamento: Que imagem esse diretor transmitirá da empresa ou do setor em que trabalha? Será a imagem de alguém preparado para o mercado atual, tão exigente quanto ao “ouro” maior chamado conhecimento?

Segundo Frank M. Corrado, em seu livro A Força da Comunicação (1994, p. 13), a comunicação pode causar um impacto direto no resultado final – para melhor ou para pior. Salienta, ainda, que quatro de cada cinco executivos principais acreditam “de verdade” que seus esforços de comunicação podem realmente causar esse impacto. Dessa forma, há que se oferecer caminhos mais acessíveis para o aprendizado da Língua Portuguesa em seus diversos aspectos: gramática, interpretação de textos, redação e outros pertinentes ao estudo da língua materna. Só assim as empresas serão capazes de gerar e transmitir comunicações claras e objetivas em seus vários níveis hierárquicos, interna ou externamente, evitando equívocos e construindo uma imagem positiva no mercado em que atuam.

 
A Importância da Adequada Abordagem nas Redações Comerciais

A redação é item de extrema importância em uma organização, sendo a sua correta abordagem fator fundamental para o entendimento da mensagem final.

A redação de cartas comerciais, ofícios, memorandos, atas, relatórios, acordos, requerimentos, circulares, contratos e similares fazem parte do cotidiano das organizações, sejam elas, pequenas, médias ou grandes empresas.

Nos dias atuais, escrever com clareza, coerência e concisão é uma vantagem competitiva capaz de elevar a imagem da empresa perante a sua clientela, os seus colaboradores, os seus fornecedores e, também, perante a concorrência. Trata-se de uma competência especial na comunicação, uma preocupação em fazer o melhor, produzir produtos e prestar serviços que tenham arraigados em si um patrimônio cultural que é a Língua Portuguesa, na clareza e objetividade dos textos, na gramática correta, na certeza de que a mensagem transmitida não será geradora    de dúvidas, e sim de uma interpretação certeira.

Para uma boa redação há que se ter argumentação adequada e convincente, além de precisão e assertividade vocabular, criatividade, coerência e, ainda, conhecimento do assunto em questão. Devem ser evitadas as falhas gramaticais, as gírias, as pontuações inadequadas, os pleonasmos, os estrangeirismos, as expressões vagas ou ambíguas, além de outros empecilhos que possam influir na precisão dos resultados esperados com a veiculação de tal mensagem.

De acordo com João Bosco Medeiros (1995, p. 47), pensar antes de falar e refletir antes de escrever são regras fundamentais para a comunicação eficaz.

 Para Medeiros (1995, p.77), a redação comercial exige a mesma atenção que se dedicaria a um texto literário ou a um relatório técnico. Não é com agastamento, cansaço ou aborrecimento que se transmite uma imagem positiva da empresa; também não se conquista a atenção do leitor com uma linguagem pejada de  estrangeirismos, e cuja estruturação frasal seja confusa.

Torna-se, portanto, necessária por parte dos administradores a plena consciência de que a imagem da empresa em seu mercado de atuação é fator que depende intrinsecamente da maneira pela qual a organização se comunica e expressa a sua mensagem.


A Linguagem como fator de Venda de Imagem

Para Maria Luiza Abaurre et alli, em seu livro Português, Língua e Literatura (2000, p. 2), a linguagem é decorrente de práticas sociais de uma cultura humana, representando-as e modificando-as, sendo o seu exercício atividade predominantemente social. Salienta, ainda, que as linguagens desenvolvidas pelo Homem pressupõem conhecimento, por parte de seus usuários, do valor simbólico dos seus signos.

A partir dessa concepção de linguagem, pode-se atribuir a ela uma grande influência na imagem de um produto ou serviço. A maneira como a linguagem é exposta determina o público a ser atingido,

isto é, a linguagem deverá estar de acordo com o público-alvo.

A linguagem utilizada por uma organização na venda de produtos ou serviços será um dos fatores responsáveis pelo sucesso ou insucesso de tais atividades.

 Compreende-se assim que o consumidor desses produtos ou serviços continuamente estará relacionando-os à linguagem outrora utilizada para induzi-lo a  adquirir tais bens. Se não for uma linguagem adequada, inteligível para o receptor, a recepção da mensagem poderá ser causadora de equívocos e até de desinteresse pelo produto ou serviço oferecido.

Ainda segundo Abaurre et alli (2000, p. 4), a linguagem é antes de tudo uma atividade do sujeito, um lugar de interação entre os membros de uma sociedade, que podem usá-la tanto para revelar como para esconder suas verdadeiras intenções, visto que, por ser indeterminada a linguagem permite a ambigüidade e os duplos sentidos.

Nas empresas, há que se tomar um cuidado especial em aspectos referentes à ambigüidade da linguagem, pois da direção enfocada pela mensagem dependerá o sucesso ou não do que se deseja transmitir. Estará em pauta não só a imagem do produto ou serviço, bem como a imagem da empresa como um TODO inserido em uma comunidade capaz de responder negativa ou positivamente, comunidade esta   composta por clientes, colaboradores, fornecedores e a sociedade em geral. Tais respostas poderão proporcionar à organização uma atuação medíocre ou uma

atuação brilhante. Sem dúvida alguma, os representantes da empresa, em seus diversos aspectos, serão responsáveis pela qualidade dos produtos e serviços oferecidos, o que inclui esta vantagem competitiva, este diferencial que é a linguagem adequada de acordo com os moldes e preceitos da língua materna.

PESQUISA

O questionário de pesquisa, denominado Pesquisa sobre a Importância da Língua Portuguesa nas Organizações, composto de cinco questões foi aplicado a vinte e um participantes, sendo que para esse universo pesquisado, nove pessoas são do sexo masculino e doze pessoas são do sexo feminino, com profissões diversas, entre elas: administradores; contabilistas; médicos; professores;

estudantes de curso superior de administração, de comunicação social e de letras; bibliotecários, auxiliar de enfermagem e outros.

A aplicação do questionário deu-se em duas cidades distintas: Campo Grande, situada no estado de Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste do Brasil, e Curitiba, localizada no estado do Paraná, região Sul do país. O fato de a pesquisa  ter sido realizada nestas cidades agregou, com certeza, maior credibilidade ao trabalho ora desenvolvido, pois de maneira dinâmica, conseguiu-se abranger

resultados de dois estados com culturas e tradições diferentes. Entretanto, por intermédio de tais resultados, percebeu-se que há um consenso no que diz respeito ao impacto negativo que enganos, erros e distorções na comunicação escrita ou oral podem proporcionar a uma empresa e a seus dirigentes, influenciando de maneira direta e indireta a imagem da organização como um todo.

 
 Abaixo, a tabulação do questionário aplicado na referida pesquisa.

1) Marque as alternativas que, na sua opinião, sejam mais adequadas ao caso: O dirigente (diretor ou presidente) empresarial que fala ou escreve errado – sem demonstrar preocupação com a correta utilização do idioma – é, na sua opinião:

ALTERNATIVAS Nº DE PESSOAS PERCENTUAL

uma pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que vive. 05 23,81%

uma pessoa interessada em aprender. 0 0 alguém que transmite uma imagem positiva da empresa em que atua. 0 0

alguém que transmite uma imagem negativa da empresa em que atua. 7 33,33%

um indivíduo atualizado com as exigências do mercado de trabalho. 0 0

uma pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que vive e, também, alguém que transmite

uma imagem negativa da empresa em que atua. 09 42,86%

TOTAL 21 100%

Gráfico Ilustrativo das respostas dadas pelos participantes à primeira questão do questionário aplicado. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ................................................. 21

(Participantes)

20%

40%

60%

80%

100%

%

0

42,86%

33,33%

23,81%


Legenda:

2) Compare os textos dos anúncios abaixo. Qual deles retrata com maior clareza e positividade a imagem da empresa e é também, mais objetivo em relação ao profissional que deseja contratar?

ANÚNCIO 1 VENDEDOR – Esquadria, comparecer Av. Raquel de Queiroz nº 1330. Serralheria e Vidraçaria.381.2941.

ANÚNCIO 2 SERRALHERIA Precisa de pessoas dinâmicas, com garra, que gostem de lidar com o público e que

possuam condução própria para trabalhar com vendas de esquadrias. Não é necessário ter experiência anterior. Fornecemos treinamento.

Comparecer na Rua 15 de Novembro, 125 – centro, das 08:00 às 14:00 h e falar com Sr. Kléber.

Fonte - Adaptação: “Diário do Pantanal” – Edição de 25/26 de maio de 2002

Nesta questão houve unanimidade na resposta, ou seja, 100% dos participantes escolheram o anúncio 2 como sendo o mais objetivo. As justificativas para essa escolha foram variadas: possui mais informações, mostra melhor o perfil do profissional, é mais completo, mais objetivo, melhor redigido, mais claro, mais definido, dentre outras.

 

3) Você acredita que a clareza, objetividade, gramática e ortografia em uma redação comercial possam influenciar na imagem transmitida pela empresa? Justifique sua resposta.

Nesta questão, também houve unanimidade, isto é, 100% dos participantes responderam “sim”, utilizando-se de diversas justificativas para tal resposta, entre elas, o grau de comprometimento desses itens (clareza, objetividade, gramática e ortografia) com a imagem da empresa e a conseqüente associação desses itens com o produto ou serviço oferecido pela organização.

4) No seu ponto de vista, é importante que as pessoas falem e escrevam corretamente? Para esta questão, 100% dos participantes responderam que é importante que as pessoas falem e escrevam corretamente.

Número de participantes que responderam ser o dirigente (diretor ou presidente) da empresa uma pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que vive: 5 participantes, o que equivale a 23,81% dos pesquisados.

Número de participantes que responderam ser o dirigente (diretor ou presidente) da empresa alguém que transmite uma imagem negativa da organização em que atua: 7 participantes, o que equivale a 33,33% dos

entrevistados. Número de participantes que responderam ser o dirigente (diretor ou presidente) da empresa uma pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que vive e, também, alguém que transmite uma imagem negativa da organização em que atua: 9 participantes, o que equivale a 42,86% dos profissionais pesquisados.

 
5) Você considera a leitura como um dos fatores importantes no aprendizado da língua e cultura de um país? Justifique sua resposta. Neste item, houve novamente unanimidade nas respostas – 100% dos pesquisados consideram a leitura como um dos fatores importantes no aprendizado da língua e cultura de um país. Entre as justificativas para essa crença destacam-se: a facilidade na construção e interpretação de textos, proporcionada pela leitura; a leitura como fonte de conhecimento; o aperfeiçoamento por intermédio da leitura; o “aumento” da cultura e do vocabulário; a facilidade de entendimento; o aperfeiçoamento da cultura e da língua; a ampliação da visão do mundo; a atualização do conhecimento e de novas técnicas no mercado de trabalho; a facilidade na compreensão e resolução de problemas; o crescimento como pessoa e como país demonstra ainda o nível de educação, dentre outras.

 
 METODOLOGIA

Para efeito de constatação da importância da Língua Portuguesa na área de  Administração, bem como da sua influência na imagem das organizações empresariais, foi realizada uma pesquisa na qual foi utilizada a aplicação de um questionário para um universo de vinte e um participantes, profissionais de diferentes áreas, com escolaridade variável entre o ensino médio e o ensino superior.

Salienta-se que esta pesquisa, advinda de uma pequena amostra, não tem a pretensão de demonstrar resultados definitivos, e sim de promover um alerta aos profissionais em geral e, principalmente, aos profissionais da área de Administração, levando-os à reflexão e à conscientização do poder da língua materna nos processos de comunicação organizacional.

Para o presente trabalho também foram utilizadas concepções de diversos autores e dados estatísticos relacionados à área de estudo.

 
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, foi abordada a importância da Língua Portuguesa para a área   de Administração, levando-se em consideração a repercussão da língua no que tange à imagem de uma organização.

Sabe-se que a língua faz parte da cultura de um país, e a sua correta utilização é um dever quase que patriótico.

A língua materna encontra-se em todas as áreas do conhecimento e do saber humano: na troca de idéias sobre determinado assunto, nas negociações, na compra e venda de produtos ou serviços, na roda de amigos, nos bancos acadêmicos, no comércio, na indústria, nas organizações públicas, enfim, em todos os locais onde há seres humanos. Portanto, de forma oral ou escrita, deve ser usada de maneira adequada, deixando clara a mensagem do emissor para o receptor.

Nas empresas, essa clareza é de extrema importância na “arte de ordenar”. Segundo Eli Rozendo (1980 p. 48-49), as ordens devem ser claras, coerentes, concisas, precisas, diretas e inequívocas. Dessa maneira, uma ordem oral ou escrita para ser bem compreendida deverá estar em concordância com os preceitos da língua em que foi emitida, no caso estudado neste trabalho, a Língua Portuguesa.

Rozendo (1980, p. 11) destaca também a importância da comunicação em todos os níveis: entre subalternos e superiores, entre empregados e patrões, entre a empresa e o público, entre a empresa e os fornecedores, nos jornais e revistas destinados aos empregados, nas reuniões, nas cartas, nos relatórios, nos gráficos, nos memorandos, nos panfletos e nos filmes publicitários.

Trata-se, portanto, da imagem da empresa como um sistema por meio do qual ela transmitirá a sua mensagem, e a maneira como essa mensagem for transmitida  poderá resultar uma resposta (feedback) positiva ou negativa oriunda do ambiente externo ou, até mesmo, do ambiente interno. Essa resposta poderá ser a responsável pelo sucesso ou insucesso da organização.

É de vital importância que a organização agregue valor ao seu potencial por intermédio da sua imagem, da sua cultura, da sua interação com clientes e parceiros e, também, do capital intelectual de seus dirigentes e colaboradores, ou seja, o diferencial capaz de alavancar uma empresa para o sucesso encontra-se nas pessoas e no conhecimento que elas possuem. É, afinal, a gestão do conhecimento tão comentada nos dias atuais.

Uma vez que o administrador conheça as particularidades de seu país e do seu idioma, ele, com certeza, terá colaboradores capacitados e preocupados com a correta e adequada utilização da Língua Portuguesa em seu ambiente de trabalho e atuação, resultando uma imagem positiva, capaz de gerar lucros e aumentar a clientela.

 

BIBLIOGRAFIA

ABAURRE, Maria Luíza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: Língua e Literatura. São Paulo: Moderna, 2000.

CORRADO, Frank M. A força da comunicação: quem não se comunica. Tradução  Bárbara Theoto Lambert. São Paulo: Makron Books, 1994.

MEDEIROS, João Bosco. Correspondência: técnicas de comunicação criativa. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1995.

MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente. 3. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999.

SANTOS, Eli Rozendo Moreira dos. Comunicação na pequena, média e grande empresa. Rio de Janeiro: Tecnoprint Ltda., 1980.

BRASIL. Seminário sobre a língua portuguesa: desafios e soluções. São Paulo,SP, 31 maio 1999. Disponível em:

<http://www.academia.org.br/desafios.htm>. Acesso em: 18 abril 2002. Jornal Diário do Pantanal. Campo Grande, MS, 25/26 maio 2002. Classificados:   Seção Negócio Fechado, p. 39.


 

LÍNGUA PORTUGUESA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO


Defende-se  a presença da disciplina Língua Portuguesa nas diversas graduações e também nos cursos ligados à tecnologia. Visando uma formação mais coerente com as necessidades do mercado, comunicar-se de forma precisa, é imprescindível na elaboração e exposição de projetos para o profissional contemporâneo. Levando em consideração as necessidades acadêmicas, embora a Língua portuguesa seja disciplina obrigatória em todas a Educação Básica,  ainda há problemas na formação. Mesmo visando uma formação mais prática, e direcionada a extas, o aluno precisará apresentar trabalhos escritos, portanto, na parte inicial do curso são abordados conteúdos de Metodologia científica e também redações que auxiliam no contexto empresarial. Cabe ressaltar que no Enade as questões de conhecimentos gerais compreendem questões de Língua, sem deixar de citar que, a parte específica exige uma correta interpretação dos dados e das informações apresentadas também textualmente.

Verifiquei também verifica-se o curriculum de algumas faculdades públicas que apresentam na grade curricular a disciplina:

 



Instituto federal Mato grosso do sul


Linguagem de Apresentação e Estruturação de Conteúdos



 

bibliografia

http://portal.sbc.org.br/educacao/lib/exe/fetch.php?media=documentos:cr99.pdf

A VELHA ORTOGRAFIA


A LÍNGUA NO  MUSEU
Ruy de Castro


RIO DE JANEIRO - Numa próxima ida a São Paulo, vou voltar ao Museu da Língua Portuguesa. Acabo de saber ("Ilustrada", 31/8) que os textos de seu espaço expositivo ainda estão na velha ortografia --ou seja, na língua como a conhecíamos, antes do "acordo" assinado em 2008 por parte dos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (leia-se o Brasil). Preciso fazer isto antes de 31 de dezembro, quando a nova ortografia será obrigatória, e o trema, por exemplo, irá se juntar aos extintos mamutes, pterodáctilos e leitores de Pearl S. Buck.

Lá, terei o prazer de ler palavras como "pingüim", "lingüista" ou "desmilingüido", com o velho trema. Penso até em lê-las em voz alta, se ninguém estiver olhando, e lambendo cada trema como Chicabon --antes que sejam reduzidas a "pinguim", "linguista" e "desmilinguido" e assim comecem a ser ditas pelos jovens que não sabem como elas soavam. Aliás, passei pelo problema outro dia nesta coluna, quando reproduzi o trecho da letra do samba "O Pato", que diz "O pato/ Vinha cantando alegremente/ Quem-quem".

Escrevi, como sói, "qüem-qüem", mesmo sabendo que meus tremas não chegariam vivos ao jornal impresso, e que a única pessoa que leria "quem-quem" como "qüem-qüem" seria o professor Evanildo Bechara, um dos autores da reforma. Quando a coluna saiu, submeti-a a alguns jovens pouco versados em bossa nova. Todos pronunciaram "quem-quem". E se, um dia, Evanildo for chamado de "linguista", e não "lingüista"?

O poeta mineiro Abgar Renault (1901-1995), que não aderiu às reformas de 1943 e 1971, morreu escrevendo "phosphoro", "pthysica" e "portuguez". Seguindo seu exemplo, continuarei a escrever "qüem-qüem" e deixarei a meus editores a tarefa de expurgar os tremas.

Acho que o Museu da Língua Portuguesa deveria continuar na velha ortografia. Afinal, é um museu, não?

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/1146884-lingua-no-museu.shtml

O PODER DA VÍRGULA

Josué Gomes da Silva

Numa prova de português do ensino fundamental, ante a pergunta sobre qual era a função do apóstrofo, um aluno respondeu: "Apóstrofos são os amigos de Jesus, que se juntaram naquela jantinha que o Leonardo fotografou".
A frase, além de alertar sobre os avanços que precisamos na excelência da educação, é didática quanto aos cuidados no uso da língua portuguesa, preciosidade que herdamos dos lusos, do galego e do latim.
O erro gritante que o aluno cometeu ao confundir dois termos com sonoridade parecida foi agravado com a colocação da vírgula depois de "amigos de Jesus". Sim, pois o sinal tornou a frase afirmativa de que os apóstolos eram todos os amigos que Jesus tinha. Ou seja, uma simples vírgula colocou em xeque o que teólogo algum ousou questionar, em mais de 20 séculos, quanto ao número de seguidores de Cristo.
Aliás, observo que vírgulas usadas indevidamente têm transformado Lula no único chefe de Estado anterior à presidenta Dilma Rousseff. Há quem escreva assim: "O ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, (...)". Ao destacá-lo entre os sinais de pontuação, o redator renega, por virgulação, todos os demais ocupantes do cargo desde a Proclamação da República.
Por falar em vírgula, lembrei-me de caso ocorrido numa cidade paulista. O vereador proponente lia seu "improviso" na cerimônia de outorga do título de cidadania a um professor de português. A iniciativa deveu-se ao fato de o mestre ter alfabetizado o nobre edil e outros munícipes no curso de adultos. O exaltado orador disparou: "Este grande letrista me transformou num competente palavrista, pontuador e virgolapense".
Um constrangido catedrático, ao discursar, agradeceu, mas recusou a homenagem. "Não a mereço", frisou! Em tempo: virgolapense é o gentílico do município de Virgem da Lapa, localizado no Vale do Jequitinhonha (MG).
Ao não dar explicações sobre o óbvio, o velho membro do magistério evitou a redundância, esse vício que polui o idioma, como ilustra ato de assinatura de convênio para projeto de piscicultura numa pequena cidade do interior gaúcho. "Vamos vender nosso peixe em todos os países da Terra", bradou o prefeito, num arroubo de entusiasmo. "Questão de ordem, Excelência, mas só nos da Terra? Por que não também nos países de Marte, Vênus e até Saturno?" --ironizou o líder da oposição na
Câmara Municipal.
O poder da vírgula e o das palavras é tão importante que, no passado, o artifício do veto à pontuação foi usado para mudar o teor das leis contra os interesses da sociedade. Assim, preocupado com o nosso idioma e com a paciência dos leitores, encerro hoje um ano de modesta colaboração à Folha. Obrigado!