Este blog tem como objetivo organizar textos que podem ser utilizados como materiais de discussão nas aulas de Língua Portuguesa ou simplesmente promover reflexões sobre a língua. Vá para o link SUMÁRIO para ter acesso à relação de temas e de publicações.
domingo, 4 de agosto de 2013
Sujeito Indireto
Paulo Leminski Quem dera eu achasse um jeito
de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indireto sujeito. Poema integrante da série Distraídos Venceremos. In: LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 199
de fazer tudo perfeito,
feito a coisa fosse o projeto
e tudo já nascesse satisfeito.
Quem dera eu visse o outro lado,
o lado de lá, lado meio,
onde o triângulo é quadrado
e o torto parece direito.
Quem dera um ângulo reto.
Já começo a ficar cheio
de não saber quando eu falto,
de ser, mim, indireto sujeito. Poema integrante da série Distraídos Venceremos. In: LEMINSKI, Paulo. Distraídos venceremos. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 199
Pontuação ( e oposição)
Opostos
No meio de uma poesia, o ponto saltou na vírgula com intenção de namorar.
Foi coisa bem passageira, dessas que ninguém liga, mas entre o ponto e a vírgula de pano pra manga da briga.
A vírgula, toda prosa, pro papo continuar. O ponto queria descanso, ficar de papo pro ar.
A vírgula esticava uma frase, lero-lero, coisa e tal, lá vinha o ponto correndo e botava um ponto final.
Foi indo, a vírgula ficou nervosa. Falou do direito e do avesso, falou do fim pro começo, berrou e perdeu o senso.
O ponto? Nem ligava pra ausência de consenso. Ponto é silêncio no texto. Imagine se muda de jeito!
A vírgula, na mesma hora, resolveu ir embora numa frase de efeito.
O ponto ficou zangado, achou de botar defeito: – Podes ir, tagarela – falou com voz amarela – Como és chata, criatura! Nem escritor te atura!
A vírgula, atrevida, optou pela pirraça: toda hora requebra de graça em qualquer frase sentido. O ponto, quando ela passa, esquece de lado o passado, fica todo derretido.
O poeta investiga as razões da eterna briga: os opostos se atraem, querem sempre se juntar. Não há sem franqueza, nem feiúra sem beleza e a sorte depende do azar.
(Ciça Fitipaldi)
No meio de uma poesia, o ponto saltou na vírgula com intenção de namorar.
Foi coisa bem passageira, dessas que ninguém liga, mas entre o ponto e a vírgula de pano pra manga da briga.
A vírgula, toda prosa, pro papo continuar. O ponto queria descanso, ficar de papo pro ar.
A vírgula esticava uma frase, lero-lero, coisa e tal, lá vinha o ponto correndo e botava um ponto final.
Foi indo, a vírgula ficou nervosa. Falou do direito e do avesso, falou do fim pro começo, berrou e perdeu o senso.
O ponto? Nem ligava pra ausência de consenso. Ponto é silêncio no texto. Imagine se muda de jeito!
A vírgula, na mesma hora, resolveu ir embora numa frase de efeito.
O ponto ficou zangado, achou de botar defeito: – Podes ir, tagarela – falou com voz amarela – Como és chata, criatura! Nem escritor te atura!
A vírgula, atrevida, optou pela pirraça: toda hora requebra de graça em qualquer frase sentido. O ponto, quando ela passa, esquece de lado o passado, fica todo derretido.
O poeta investiga as razões da eterna briga: os opostos se atraem, querem sempre se juntar. Não há sem franqueza, nem feiúra sem beleza e a sorte depende do azar.
(Ciça Fitipaldi)
Sobre a cultura dos SANTOS
Ô, meu santo
Ivan Angelo | 25/10/2006
Meu São
Judas das causas impossíveis, obrigado por ter atendido a três pedidos que para
mim seriam inalcançáveis sem sua voz poderosa junto ao Pai. Primeiro, me livrou
das dívidas que me faziam escorregar ladeira abaixo na vida; segundo, me deu um
casamento com um homem que não bebe, não me trai e não me bate, logo eu, meu
santo, que já não era nova e tinha um filho virando problema; e, terceiro,
construiu nossa casa, tijolo por tijolo abençoado, mas agora, meu santo, me ouve
mais uma vez, pede por mim ao Pai mais uma graça, arranja um emprego pro meu
marido e tira meu filho da mão do tráfico, porque lá, em bairro de pobre, é só
o que se vê, marido sem trabalho e filho prestando vestibular pra Febem.
Meu santo padroeiro dos funcionários, continuo a esperar a graça que ainda não recebi, está lembrado? Tirar aquele chefe do meu caminho: me mude de seção, ou mude ele. Vim antes do dia 28 porque no ano passado tinha 350 000 pessoas pedindo, e eu acho que foi por isso que não fui ouvido.
Agradeço, meu São Judas Tadeu e meus outros santos protetores, agradeço as graças alcançadas: trabalho, saúde para Lurdinha, Rute, Quiqui, Ju e proteção para a minha casa e para a da minha mãe, proteção para o carro de Lurdinha e Rute contra roubo, que não podemos ficar sem ele, é a nossa condução, e também peço um dinheirinho extra para pagar as dívidas da prestação atrasada, senão a gente perde a televisão e o microondas, e peço também pra nos livrar da inveja e afastar os nossos inimigos e ajudar o namoro da minha filha Rute, sendo o mais urgente a prestação.
Peço, apóstolo Judas, um dos doze, chamado Tadeu, primo-irmão de Jesus, que o nomeou para as causas mais difíceis, irmão do apóstolo Tiago, o primeiro bispo de Jerusalém, sobrinho muito querido de José e Maria, filho de Maria Cleofas, prima de Maria, uma das mulheres que estavam ao pé da Cruz, evangelizador da Galiléia e de Samaria, tio de João, o Evangelista, peço que, com o teu prestígio, por tantos serviços prestados e tão poderoso parentesco, me dês proteção contra graves ameaças, tais como a de seqüestro da minha pessoa e de meus familiares, que já por duas vezes quase se consumou, de assaltos a mão armada nas esquinas, dos quais escapei por ter blindado o carro, de concussão dos fiscais do governo que rondam minha empresa, de piratas que copiam cartões de banco, de gatos que subtraem saldos bancários via internet, de quadrilhas que promovem arrastões em condomínios – ô, meu santo, dá-me a proteção de que por ser rico não sou menos merecedor.
Meu santo das causas trabalhosas, por muitos anos o sonho da nossa família foi ter uma casa própria, ficarmos livres do aluguel e da ameaça de um dia dormir na rua, e com a vossa ajuda conseguimos o financiamento do CDHU, mas as dificuldades foram muitas, e tantas, e tais que meu marido ficou doente, caiu da laje, e o dinheiro dele apoucou, o do meu filho Tadeu, cujo nome botei em vossa homenagem, meu santo dos impossíveis, também apoucou porque ele se casou já em via de ter filho, e o dinheiro que a Terê dava em casa também se apequenou, porque ela perdeu o amigo que ajudava ela, e o meu do mês é cada vez menos em virtude de ir perdendo serviço, e então não pudemos mais pagar a casa, a dívida foi crescendo, crescendo, e agora está impossível de tirar o atraso, com juro em cima de juro, por isso nós pedimos, meu São Judas, que dê certo a negociação dos juros de 12% para 3%, sem o que nós vamos ter de desistir e ir para o olho da rua.
São Judas, primo de Jesus, que reverenciamos no dia 28, véspera da eleição, juntai forças com Santa Rita de Cássia, Santo Expedito, Santa Edwiges, Santo Ambrósio, Santa Teresinha, Senhora Aparecida e São José, para nos ajudar a escolher um presidente que olhe por nós, porque o que eles querem nós sabemos e não sabemos se eles sabem o que nós queremos, amém.
Meu santo padroeiro dos funcionários, continuo a esperar a graça que ainda não recebi, está lembrado? Tirar aquele chefe do meu caminho: me mude de seção, ou mude ele. Vim antes do dia 28 porque no ano passado tinha 350 000 pessoas pedindo, e eu acho que foi por isso que não fui ouvido.
Agradeço, meu São Judas Tadeu e meus outros santos protetores, agradeço as graças alcançadas: trabalho, saúde para Lurdinha, Rute, Quiqui, Ju e proteção para a minha casa e para a da minha mãe, proteção para o carro de Lurdinha e Rute contra roubo, que não podemos ficar sem ele, é a nossa condução, e também peço um dinheirinho extra para pagar as dívidas da prestação atrasada, senão a gente perde a televisão e o microondas, e peço também pra nos livrar da inveja e afastar os nossos inimigos e ajudar o namoro da minha filha Rute, sendo o mais urgente a prestação.
Peço, apóstolo Judas, um dos doze, chamado Tadeu, primo-irmão de Jesus, que o nomeou para as causas mais difíceis, irmão do apóstolo Tiago, o primeiro bispo de Jerusalém, sobrinho muito querido de José e Maria, filho de Maria Cleofas, prima de Maria, uma das mulheres que estavam ao pé da Cruz, evangelizador da Galiléia e de Samaria, tio de João, o Evangelista, peço que, com o teu prestígio, por tantos serviços prestados e tão poderoso parentesco, me dês proteção contra graves ameaças, tais como a de seqüestro da minha pessoa e de meus familiares, que já por duas vezes quase se consumou, de assaltos a mão armada nas esquinas, dos quais escapei por ter blindado o carro, de concussão dos fiscais do governo que rondam minha empresa, de piratas que copiam cartões de banco, de gatos que subtraem saldos bancários via internet, de quadrilhas que promovem arrastões em condomínios – ô, meu santo, dá-me a proteção de que por ser rico não sou menos merecedor.
Meu santo das causas trabalhosas, por muitos anos o sonho da nossa família foi ter uma casa própria, ficarmos livres do aluguel e da ameaça de um dia dormir na rua, e com a vossa ajuda conseguimos o financiamento do CDHU, mas as dificuldades foram muitas, e tantas, e tais que meu marido ficou doente, caiu da laje, e o dinheiro dele apoucou, o do meu filho Tadeu, cujo nome botei em vossa homenagem, meu santo dos impossíveis, também apoucou porque ele se casou já em via de ter filho, e o dinheiro que a Terê dava em casa também se apequenou, porque ela perdeu o amigo que ajudava ela, e o meu do mês é cada vez menos em virtude de ir perdendo serviço, e então não pudemos mais pagar a casa, a dívida foi crescendo, crescendo, e agora está impossível de tirar o atraso, com juro em cima de juro, por isso nós pedimos, meu São Judas, que dê certo a negociação dos juros de 12% para 3%, sem o que nós vamos ter de desistir e ir para o olho da rua.
São Judas, primo de Jesus, que reverenciamos no dia 28, véspera da eleição, juntai forças com Santa Rita de Cássia, Santo Expedito, Santa Edwiges, Santo Ambrósio, Santa Teresinha, Senhora Aparecida e São José, para nos ajudar a escolher um presidente que olhe por nós, porque o que eles querem nós sabemos e não sabemos se eles sabem o que nós queremos, amém.
Crônica sobre as cantigas folclóricas
Cantigas de arrepiar
Walcyr Carrasco | 18/10/2006
Ando assustado com as cantigas infantis! O nenê está no berço,
brincando com o chocalho. Mamãe canta com voz melosa: "Boi, boi, boi, boi
da cara preta / Pega esse menino / Que tem medo de careta!"
Eu não sei como o bebê não pula sobre as grades de susto! Mamãe está chamando um boi furioso para levá-lo? Comentei com um amigo, que revidou:
– A criança não entende as palavras.
Será? A certa altura começa a saber o que é mamãe, papai. Acabará descobrindo também a ameaça do boi malvado! Ou da Cuca, como em outra doce cantiga de ninar: "Dorme, nenê / Que a cuca vem pegar..."
A Cuca é tão terrível que virou vilã de um livro de Monteiro Lobato. Em O Saci, a menina Narizinho é seqüestrada pela dita-cuja e salva depois de mil peripécias de seu primo Pedrinho. Na série de televisão, tornou-se personagem constante, sempre em guerra com os heróis do Sítio do Picapau Amarelo. No livro e na televisão, a Cuca sempre é derrotada. No berço, nunca! A mãe canta, canta, e a criancinha aterrorizada espera a malvada! Deve dormir de susto, coitada!
E as de roda? Há uma simplesmente horrenda: "Atirei o pau no gato-to / Mas o gato-to / Não morreu-reu-reu / Dona Chica-ca-ca / Admirou-se-se / Do berrô, do berrô / Que o gato deu / Miaaaau!".
Ao terminarem, as crianças se agacham, rindo. Do quê?, me pergunto. Acaso é engraçado ser cruel com um gato? Cantar o berro? Como se devesse ter perdido as sete vidas com a pancada? Qualquer associação de defesa dos animais concordaria com minha surpresa! Mais que isso: qualquer pessoa bem-intencionada!
Na clássica Ciranda, Cirandinha, a certa altura vêm estes versos: "O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou / O amor que tu me tinhas / Era pouco e se acabou".
É uma ode à rejeição. Também à intransigência. Ao comparar o afeto com vidro, dá a impressão de que os laços não podem ser refeitos. Acabou, acabou! Mas não é importante ensinar que é preciso preservar os sentimentos, perdoar as faltas alheias?
Confesso: foi um leitor quem me abriu os olhos. Escreveu-me falando de sua experiência. Mora nos Estados Unidos e trabalha como baby-sitter. Começou a cantar Boi da Cara Preta para o menino da casa, e o pimpolho adorava! A mãe pediu para traduzir. Só então caiu em si. As cantigas americanas, segundo disse, são doces e repletas de ternura. Como explicar que estava chamando um boi bravo a uma americana capaz de processá-lo por tortura mental? Acabou sem contar o que dizia a canção. Surpreendeu-se:
– Será que desde o começo não estamos ensinando a linguagem do medo?
Não preciso ser experto em pedagogia. Qualquer professor que entrasse em uma classe do maternal e ameaçasse os alunos com bichos furiosos ou monstros perderia as aulas. Muitas crianças seriam remetidas ao psicólogo para se recuperar do choque. Mães, pais, babás acham lindo chamar a Cuca! Não é uma contradição?
Houve certa vez um movimento para mudar as letras. A reação foi de revolta por parte de quem acreditava que a tradição não podia ser mexida.
Temo estar sendo radical. Mas, ao refletir sobre as cantigas, sinto um travo de inquietude. Surgiram há muito tempo, em uma época em que a educação se fazia com ameaças e castigos. Hoje tudo mudou. Crianças merecem cantar sonhos e felicidade. Para que crescer com medo de monstros, achar divertido atirar o pau no gato? Deixar que os pequenos espíritos infantis se quebrem como vidro? Quem sabe a capacidade de amar ficará para sempre comprometida.
Eu não sei como o bebê não pula sobre as grades de susto! Mamãe está chamando um boi furioso para levá-lo? Comentei com um amigo, que revidou:
– A criança não entende as palavras.
Será? A certa altura começa a saber o que é mamãe, papai. Acabará descobrindo também a ameaça do boi malvado! Ou da Cuca, como em outra doce cantiga de ninar: "Dorme, nenê / Que a cuca vem pegar..."
A Cuca é tão terrível que virou vilã de um livro de Monteiro Lobato. Em O Saci, a menina Narizinho é seqüestrada pela dita-cuja e salva depois de mil peripécias de seu primo Pedrinho. Na série de televisão, tornou-se personagem constante, sempre em guerra com os heróis do Sítio do Picapau Amarelo. No livro e na televisão, a Cuca sempre é derrotada. No berço, nunca! A mãe canta, canta, e a criancinha aterrorizada espera a malvada! Deve dormir de susto, coitada!
E as de roda? Há uma simplesmente horrenda: "Atirei o pau no gato-to / Mas o gato-to / Não morreu-reu-reu / Dona Chica-ca-ca / Admirou-se-se / Do berrô, do berrô / Que o gato deu / Miaaaau!".
Ao terminarem, as crianças se agacham, rindo. Do quê?, me pergunto. Acaso é engraçado ser cruel com um gato? Cantar o berro? Como se devesse ter perdido as sete vidas com a pancada? Qualquer associação de defesa dos animais concordaria com minha surpresa! Mais que isso: qualquer pessoa bem-intencionada!
Na clássica Ciranda, Cirandinha, a certa altura vêm estes versos: "O anel que tu me deste / Era vidro e se quebrou / O amor que tu me tinhas / Era pouco e se acabou".
É uma ode à rejeição. Também à intransigência. Ao comparar o afeto com vidro, dá a impressão de que os laços não podem ser refeitos. Acabou, acabou! Mas não é importante ensinar que é preciso preservar os sentimentos, perdoar as faltas alheias?
Confesso: foi um leitor quem me abriu os olhos. Escreveu-me falando de sua experiência. Mora nos Estados Unidos e trabalha como baby-sitter. Começou a cantar Boi da Cara Preta para o menino da casa, e o pimpolho adorava! A mãe pediu para traduzir. Só então caiu em si. As cantigas americanas, segundo disse, são doces e repletas de ternura. Como explicar que estava chamando um boi bravo a uma americana capaz de processá-lo por tortura mental? Acabou sem contar o que dizia a canção. Surpreendeu-se:
– Será que desde o começo não estamos ensinando a linguagem do medo?
Não preciso ser experto em pedagogia. Qualquer professor que entrasse em uma classe do maternal e ameaçasse os alunos com bichos furiosos ou monstros perderia as aulas. Muitas crianças seriam remetidas ao psicólogo para se recuperar do choque. Mães, pais, babás acham lindo chamar a Cuca! Não é uma contradição?
Houve certa vez um movimento para mudar as letras. A reação foi de revolta por parte de quem acreditava que a tradição não podia ser mexida.
Temo estar sendo radical. Mas, ao refletir sobre as cantigas, sinto um travo de inquietude. Surgiram há muito tempo, em uma época em que a educação se fazia com ameaças e castigos. Hoje tudo mudou. Crianças merecem cantar sonhos e felicidade. Para que crescer com medo de monstros, achar divertido atirar o pau no gato? Deixar que os pequenos espíritos infantis se quebrem como vidro? Quem sabe a capacidade de amar ficará para sempre comprometida.
http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-1979/meu-santo
Crônica sobre o nome dos bairros
Deixem estar
Ivan Angelo | 16/08/2006
Largo da Batata... Viriam aqui comerciar os batateiros de
antigamente? E era tanta batata assim? Bairro do Limão... Haveria ali, no
passado, limoeiros perfumando as várzeas e encostas, durante a florada? Viaduto
do Chá... Que espécie de chá seria, e quem o consumia naqueles tempos
cafeeiros? Freguesia do Ó: não um espanto, como pode parecer, mas uma
invocação...
Tenho muita simpatia pelos antigos nomes de lugares na cidade, não escamoteados ainda pela bajulação dos vereadores e administradores, que trocam denominações evocativas e históricas por nomes, muitas vezes, de poderosos sem mérito e familiares desconhecidos. Sim, devemos homenagear figuras históricas, mas por que não em ruas, praças, pontes e viadutos novos? Na cidade que descuida da memória, perdemos não só prédios históricos, mas nomes também. Deixem estar os nomes.
Já perdemos tanta poesia e graça por culpa de reformadores... A Rua Triste e a Rua Alegre corriam paralelas em Santa Ifigênia, uma ia para o cemitério, a outra, para as alegrias... Hoje chamam-se Cásper Líbero e Brigadeiro Tobias. Felizmente ainda existem a Estrada das Lágrimas, a Rua do Bosque, o Largo da Memória, a Rua Tanquinho... Perdemos referências históricas. O Largo da Forca, onde ficava a última forca da cidade, virou Praça da Liberdade; o Largo do Pelourinho é agora de Sete de Setembro; o Pátio da Cadeia virou Praça João Mendes.
Nomes divertidos sumiram, alguém deve ter pensado que não ficavam bem numa capital de grande destino. O Beco dos Chifres, também referido como dos Cornos, ficava na região de um antigo matadouro e hoje se chama Álvares Machado. O Beco do Mata-Fome tornou-se Rua Araújo.
Não é saudosismo, porque esse inventário de perdas nos mostra que perdemos até o que nunca tivemos, o que já não tínhamos quando aqui chegamos, há duas ou três gerações. Já não eram nossos nomes de ruas e lugares que talvez nos contassem alguma coisa sobre o que fomos antes de sermos.
Proclama-se a República e oportunamente desaparecem as ruas do Imperador, da Imperatriz, da Princesa, do Príncipe, do Conde d'Eu, trocados por nomes republicanos; aparece a Praça da República.
À parte o oportunismo político, seria bom que alguns nomes tivessem sido preservados, pois nos remeteriam a uma época em que outras pessoas andaram pelos mesmos caminhos e deram a eles nomes que indicavam um destino, ensinavam o melhor rumo a seguir, marcavam referências nos trajetos. Se havia uma bica, era a rua da biquinha, se havia uma igreja, era a da igreja tal.
Assim, a Rua da Caixa d'Água, onde havia o reservatório, virou Barão de Paranapiacaba; a Estrada da Água Branca, que levava para o sítio do mesmo nome e para Jundiaí, tinha um significado que Rua Turiaçu não tem; a Rua do Rosário levava para a Igreja do Rosário; a Rua Baixa de São Bento informava o que 25 de Março não informa. Quando se abriu o bairro de Santa Ifigênia, a Rua dos Bambus era a principal, hoje é a Avenida Rio Branco. E a Rua do Jogo da Bola, hoje Benjamin Constant – que jogo seria aquele que dava nome a uma rua?
Em compensação, outras mantêm o nome, embora a coisa indicada já não exista. Porto Geral era o nome de um beco que levava ao porto do rio, quando por ali passava o Tamanduateí, na sétima volta do seu serpenteio pela baixada. Rua do Lavapés, onde havia um riacho em que os viajantes lavavam os pés antes de entrar na cidade. Rua das Palmeiras... que é delas? Perdizes, Casa Verde, Limão, Pinheiros... O tempo comeu a senhora criadora de perdizes, as irmãs solteironas da Casa Verde, a chácara dos limoeiros, as araucárias dos morros... – mas as palavras, essas ficaram, teimosas, insinuantes.
Quem pensa nessas coisas transita pela cidade com um discreto sentimento de perda.
Tenho muita simpatia pelos antigos nomes de lugares na cidade, não escamoteados ainda pela bajulação dos vereadores e administradores, que trocam denominações evocativas e históricas por nomes, muitas vezes, de poderosos sem mérito e familiares desconhecidos. Sim, devemos homenagear figuras históricas, mas por que não em ruas, praças, pontes e viadutos novos? Na cidade que descuida da memória, perdemos não só prédios históricos, mas nomes também. Deixem estar os nomes.
Já perdemos tanta poesia e graça por culpa de reformadores... A Rua Triste e a Rua Alegre corriam paralelas em Santa Ifigênia, uma ia para o cemitério, a outra, para as alegrias... Hoje chamam-se Cásper Líbero e Brigadeiro Tobias. Felizmente ainda existem a Estrada das Lágrimas, a Rua do Bosque, o Largo da Memória, a Rua Tanquinho... Perdemos referências históricas. O Largo da Forca, onde ficava a última forca da cidade, virou Praça da Liberdade; o Largo do Pelourinho é agora de Sete de Setembro; o Pátio da Cadeia virou Praça João Mendes.
Nomes divertidos sumiram, alguém deve ter pensado que não ficavam bem numa capital de grande destino. O Beco dos Chifres, também referido como dos Cornos, ficava na região de um antigo matadouro e hoje se chama Álvares Machado. O Beco do Mata-Fome tornou-se Rua Araújo.
Não é saudosismo, porque esse inventário de perdas nos mostra que perdemos até o que nunca tivemos, o que já não tínhamos quando aqui chegamos, há duas ou três gerações. Já não eram nossos nomes de ruas e lugares que talvez nos contassem alguma coisa sobre o que fomos antes de sermos.
Proclama-se a República e oportunamente desaparecem as ruas do Imperador, da Imperatriz, da Princesa, do Príncipe, do Conde d'Eu, trocados por nomes republicanos; aparece a Praça da República.
À parte o oportunismo político, seria bom que alguns nomes tivessem sido preservados, pois nos remeteriam a uma época em que outras pessoas andaram pelos mesmos caminhos e deram a eles nomes que indicavam um destino, ensinavam o melhor rumo a seguir, marcavam referências nos trajetos. Se havia uma bica, era a rua da biquinha, se havia uma igreja, era a da igreja tal.
Assim, a Rua da Caixa d'Água, onde havia o reservatório, virou Barão de Paranapiacaba; a Estrada da Água Branca, que levava para o sítio do mesmo nome e para Jundiaí, tinha um significado que Rua Turiaçu não tem; a Rua do Rosário levava para a Igreja do Rosário; a Rua Baixa de São Bento informava o que 25 de Março não informa. Quando se abriu o bairro de Santa Ifigênia, a Rua dos Bambus era a principal, hoje é a Avenida Rio Branco. E a Rua do Jogo da Bola, hoje Benjamin Constant – que jogo seria aquele que dava nome a uma rua?
Em compensação, outras mantêm o nome, embora a coisa indicada já não exista. Porto Geral era o nome de um beco que levava ao porto do rio, quando por ali passava o Tamanduateí, na sétima volta do seu serpenteio pela baixada. Rua do Lavapés, onde havia um riacho em que os viajantes lavavam os pés antes de entrar na cidade. Rua das Palmeiras... que é delas? Perdizes, Casa Verde, Limão, Pinheiros... O tempo comeu a senhora criadora de perdizes, as irmãs solteironas da Casa Verde, a chácara dos limoeiros, as araucárias dos morros... – mas as palavras, essas ficaram, teimosas, insinuantes.
Quem pensa nessas coisas transita pela cidade com um discreto sentimento de perda.
A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NA ÁREA DE ADMINISTRAÇÃO
MARTINS, Vera Lucia Bianchini; MONTEIRO, Jucilene A. Arruda
fonte: http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/article/view/459/356
fonte: http://revistas.facecla.com.br/index.php/recadm/article/view/459/356
INTRODUÇÃO
Interessados em chamar a
atenção dos professores, dos profissionais de comunicação e dos
estudantes sobre a real importância da Língua Portuguesa, os estudiosos do
assunto têm realizado, no Brasil, vários estudos, seminários e encontros, sendo
que, em 1999, foi realizado pela Academia Brasileira de Letras (ABL), em
conjunto com o Centro de Integração Empresa Escola (CIEE), um seminário sobre
os desafios e soluções referentes à Língua Portuguesa, o qual teve a
participação de acadêmicos ilustres como Lygia Fagundes Teles e o Presidente
da ABL, Sr. Arnaldo Niskier. Em uma
pesquisa efetuada pelo CIEE, foi constatado que 7 0% dos alunos de
Administração baseiam sua formação em apostilas reproduzidas na própria faculdade. Vários jornais
têm mostrado essa preocupação. A Folha de São Paulo evidenciou, em muitas de
suas reportagens, que o estudante universitário lê pouco e, quando lê, tende a
se limitar às apostilas, aos resumos e aos capítulos xerocopiados dos livros.
Na maioria das vezes, há
também uma grande deficiência em redação, envolvendo tanto os erros gramaticais
quanto a deturpação e deformação de
conceitos e fatos.
No intuito de auxiliar os
estudantes e profissionais de administração e ainda criar subsídios para a
mudança desse perfil é que este trabalho foi realizado. Ele possui como
objetivo principal conscientizar os profissionais da área de administração sobre a importância da correta
utilização da língua materna em seu cotidiano, aspecto este que influencia não
só a imagem da empresa em que atua, como também a sua própria imagem como
profissional e cidadão brasileiro.
Para tanto, foram
desenvolvidos de maneira lógica e objetiva, os seguintes tópicos:
_ A
Língua Portuguesa nos processos de recrutamento, seleção, admissão, treinamento e demissão;
_ A
Língua Portuguesa x Imagem x Qualidade Total;
_ A
importância da adequada abordagem nas redações comerciais;
_ A
linguagem como fator de venda de imagem.
Morin (1995, p. 81),
citado por Maria Cândida Moraes no livro O
Paradigma Educacional (1999, p. 72), afirma:
“Eu considero impossível conhecer as partes sem conhecer o Todo, assim como
conhecer o Todo sem conhecer particularmente as partes”. É uma concepção
sistêmica. A partir desse conceito, chega-se à conclusão de que existe um
sistema (para este trabalho, a empresa). Esse sistema é formado por partes que
se integram e se complementam entre si (setores, departamentos e colaboradores).
O sistema como um todo é
representado por suas partes individualmente ou em conjunto, ou seja, a sua
imagem dependerá dessas partes e o impacto externo será determinado pela
atuação das partes. Sendo assim, pode-se ilustrar o pensamento acima com o
diagrama a seguir:
Imagem SISTEMA (Empresa)
Deptos. Setores
Colaboradores
Resultado(Impacto)
Feedback (resposta
externa positiva ou negativa)
4 A Língua Portuguesa nos Processos de
Recrutamento, Seleção, Treinamento,
Admissão e Demissão
Sabe-se
que, na administração de uma empresa, a comunicação é extremamente importante
uma vez que todas as informações no âmbito organizacional devem ser
transmitidas com clareza e objetividade, de modo que não gerem dúvidas aos
receptores das mensagens. Especificamente no que tange à Administração de
Recursos Humanos, percebe-se a grande e
peculiar importância da língua materna.
O
recrutamento de pessoal consiste em procedimentos pelos quais a empresa tem
como objetivo atrair a mão-de-obra de que necessita. Isso pode ser feito por
intermédio de diversas fontes, tais como: escolas, agências de emprego,
anúncios em jornais, rádio, televisão, internet e similares. Um dos meios mais
utilizados para atrair candidatos são os anúncios efetuados pela imprensa
escrita, devido à sua praticidade. Entretanto, a redação do anúncio deve ser
clara e conter informações essenciais para atrair os candidatos mais
desejáveis. Para tanto, a pessoa do anunciante deverá demonstrar domínio de
vocabulário, utilizar-se de palavras e frases dispostas corretamente, evitando,
dessa forma, a disseminação de dúvidas e incoerências na mensagem.
Segundo
o Prof. Eli Rozendo (1980, p. 35), a linguagem é uma fonte de muitas falhas na
comunicação, e o desconhecimento do significado correto de uma palavra por
parte do receptor pode levar à incompreensão e ao fracasso de toda a mensagem.
De outra forma, se o emissor faz uso de uma palavra sem ter certeza do seu
significado, pode produzir uma mensagem inteiramente diferente da que deseja
transmitir.
Ainda
no que se refere ao processo de recrutamento, a maneira como a mensagem for
transmitida será a responsável pelos candidatos advindos dessa procura, sendo
que uma mensagem clara e objetiva atrairá candidatos realmente “atinentes” ao
cargo em questão, enquanto que, se a mensagem gerar dúvidas devido à
incoerência ou à falta de objetividade, poderá atrair candidatos com perfis
profissionais alheios aos que o cargo necessita. Tal fato causaria perda de
tempo e
transtornos,
o que poderia ser evitado com a correta utilização da Língua Portuguesa, com um
vocabulário adequado e com palavras bem empregadas e frases bem formuladas.
O
mesmo raciocínio deverá ser utilizado nos processos de seleção, treinamento,
admissão e demissão de empregados, ou seja, faz-se necessário um cuidado
especial na transmissão de mensagens oriundas dos processos de comunicação
organizacional, sejam essas mensagens transmitidas de forma oral ou escrita, a
fim de que não causem dúvidas, transtornos e/ou constrangimentos para ambas as
partes (empregado e empregador), pois a forma como essa mensagem é transmitida, poderá, também, influenciar
negativa ou positivamente a imagem da organização.
Língua Portuguesa x
Imagem x Qualidade Total
Vive-se,
atualmente, em busca da qualidade total em produtos e serviços. Pode-se
deduzir, então, que uma empresa que objetiva alcançar a qualidade total não
poderá transmitir uma imagem negativa a seus clientes, ou seja, esse tipo de
impacto poderá causar à sua clientela uma rejeição por seus produtos e/ou serviços.
A
mensagem será causadora de um impacto em todos que a receberem. Esse impacto
(positivo ou negativo) refletirá a imagem da organização. Sendo assim, a imagem
da empresa depende de seus dirigentes e colaboradores. Afinal, como explicar um
diretor escrevendo em uma carta comercial: “se
houverem perspectivas”, “estou enviando”, “a reclamação foi efetuada junto ao
órgão competente” ou “a nível de...” ou mesmo verbalizando tais expressões?
Fica aqui um questionamento: Que imagem esse diretor transmitirá da empresa ou
do setor em que trabalha? Será a imagem de alguém preparado para o mercado
atual, tão exigente quanto ao “ouro” maior chamado conhecimento?
Segundo
Frank M. Corrado, em seu livro A Força da
Comunicação (1994, p. 13), a comunicação pode causar um impacto direto no
resultado final – para melhor ou para pior. Salienta, ainda, que quatro de cada
cinco executivos principais acreditam “de verdade” que seus esforços de
comunicação podem realmente causar esse impacto. Dessa forma, há que se
oferecer caminhos mais acessíveis para o aprendizado da Língua Portuguesa em
seus diversos aspectos: gramática, interpretação de textos, redação e outros
pertinentes ao estudo da língua materna. Só assim as empresas serão capazes de
gerar e transmitir comunicações claras e objetivas em seus vários níveis
hierárquicos, interna ou externamente, evitando equívocos e construindo uma
imagem positiva no mercado em que atuam.
A
redação é item de extrema importância em uma organização, sendo a sua correta
abordagem fator fundamental para o entendimento da mensagem final.
A
redação de cartas comerciais, ofícios, memorandos, atas, relatórios, acordos,
requerimentos, circulares, contratos e similares fazem parte do cotidiano das
organizações, sejam elas, pequenas, médias ou grandes empresas.
Nos
dias atuais, escrever com clareza, coerência e concisão é uma vantagem
competitiva capaz de elevar a imagem da empresa perante a sua clientela, os
seus colaboradores, os seus fornecedores e, também, perante a concorrência.
Trata-se de uma competência especial na comunicação, uma preocupação em fazer o
melhor, produzir produtos e prestar serviços que tenham arraigados em si um
patrimônio cultural que é a Língua Portuguesa, na clareza e objetividade dos
textos, na gramática correta, na certeza de que a mensagem transmitida não será
geradora de dúvidas, e sim de uma
interpretação certeira.
Para
uma boa redação há que se ter argumentação adequada e convincente, além de
precisão e assertividade vocabular, criatividade, coerência e, ainda,
conhecimento do assunto em questão. Devem ser evitadas as falhas gramaticais,
as gírias, as pontuações inadequadas, os pleonasmos, os estrangeirismos, as
expressões vagas ou ambíguas, além de outros empecilhos que possam influir na
precisão dos resultados esperados com a veiculação de tal mensagem.
De
acordo com João Bosco Medeiros (1995, p. 47), pensar antes de falar e refletir
antes de escrever são regras fundamentais para a comunicação eficaz.
Para
Medeiros (1995, p.77), a redação comercial exige a mesma atenção que se
dedicaria a um texto literário ou a um relatório técnico. Não é com
agastamento, cansaço ou aborrecimento que se transmite uma imagem positiva da
empresa; também não se conquista a atenção do leitor com uma linguagem pejada
de estrangeirismos, e cuja estruturação
frasal seja confusa.
Torna-se,
portanto, necessária por parte dos administradores a plena consciência de que a
imagem da empresa em seu mercado de atuação é fator que depende intrinsecamente
da maneira pela qual a organização se comunica e expressa a sua mensagem.
A Linguagem como fator de
Venda de Imagem
Para
Maria Luiza Abaurre et alli, em seu
livro Português, Língua e Literatura (2000,
p. 2), a linguagem é decorrente de práticas sociais de uma cultura humana,
representando-as e modificando-as, sendo o seu exercício atividade
predominantemente social. Salienta, ainda, que as linguagens desenvolvidas pelo
Homem pressupõem conhecimento, por parte de seus usuários, do valor simbólico
dos seus signos.
A
partir dessa concepção de linguagem, pode-se atribuir a ela uma grande
influência na imagem de um produto ou serviço. A maneira como a linguagem é
exposta determina o público a ser atingido,
isto
é, a linguagem deverá estar de acordo com o público-alvo.
A
linguagem utilizada por uma organização na venda de produtos ou serviços será
um dos fatores responsáveis pelo sucesso ou insucesso de tais atividades.
Ainda
segundo Abaurre et alli (2000, p. 4),
a linguagem é antes de tudo uma atividade
do sujeito, um lugar de
interação entre os membros de uma sociedade, que podem usá-la tanto para
revelar como para esconder suas verdadeiras intenções, visto que, por ser
indeterminada a linguagem permite a ambigüidade e os duplos sentidos.
Nas
empresas, há que se tomar um cuidado especial em aspectos referentes à
ambigüidade da linguagem, pois da direção enfocada pela mensagem dependerá o
sucesso ou não do que se deseja transmitir. Estará em pauta não só a imagem do
produto ou serviço, bem como a imagem da empresa como um TODO inserido em uma
comunidade capaz de responder negativa ou positivamente, comunidade esta composta por clientes, colaboradores,
fornecedores e a sociedade em geral. Tais respostas poderão proporcionar à
organização uma atuação medíocre ou uma
atuação
brilhante. Sem dúvida alguma, os representantes da empresa, em seus diversos
aspectos, serão responsáveis pela qualidade dos produtos e serviços oferecidos,
o que inclui esta vantagem competitiva, este diferencial que é a linguagem
adequada de acordo com os moldes e preceitos da língua materna.
PESQUISA
O
questionário de pesquisa, denominado Pesquisa sobre a Importância da Língua
Portuguesa nas Organizações, composto de cinco questões foi aplicado a vinte e
um participantes, sendo que para esse universo pesquisado, nove pessoas são do
sexo masculino e doze pessoas são do sexo feminino, com profissões diversas,
entre elas: administradores; contabilistas; médicos; professores;
estudantes
de curso superior de administração, de comunicação social e de letras;
bibliotecários, auxiliar de enfermagem e outros.
A
aplicação do questionário deu-se em duas cidades distintas: Campo Grande,
situada no estado de Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste do Brasil, e
Curitiba, localizada no estado do Paraná, região Sul do país. O fato de a
pesquisa ter sido realizada nestas
cidades agregou, com certeza, maior credibilidade ao trabalho ora desenvolvido,
pois de maneira dinâmica, conseguiu-se abranger
resultados
de dois estados com culturas e tradições diferentes. Entretanto, por intermédio
de tais resultados, percebeu-se que há um consenso no que diz respeito ao
impacto negativo que enganos, erros e distorções na comunicação escrita ou oral
podem proporcionar a uma empresa e a seus dirigentes, influenciando de maneira
direta e indireta a imagem da organização como um todo.
1)
Marque as alternativas que, na sua opinião, sejam mais adequadas ao caso: O
dirigente (diretor ou presidente) empresarial que fala ou escreve errado – sem
demonstrar preocupação com a correta utilização do idioma – é, na sua opinião:
ALTERNATIVAS Nº DE PESSOAS PERCENTUAL
uma
pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que vive. 05
23,81%
uma
pessoa interessada em aprender. 0 0 alguém que transmite uma imagem positiva da
empresa em que atua. 0 0
alguém
que transmite uma imagem negativa da empresa em que atua. 7 33,33%
um
indivíduo atualizado com as exigências do mercado de trabalho. 0 0
uma
pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que vive e,
também, alguém que transmite
uma
imagem negativa da empresa em que atua. 09 42,86%
TOTAL 21 100%
Gráfico
Ilustrativo das respostas dadas pelos participantes à primeira questão do
questionário aplicado. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ................................................. 21
(Participantes)
20%
40%
60%
80%
100%
%
0
42,86%
33,33%
23,81%
Legenda:
2)
Compare os textos dos anúncios abaixo. Qual deles retrata com maior clareza e
positividade a imagem da empresa e é também, mais objetivo em relação ao profissional
que deseja contratar?
ANÚNCIO 1 VENDEDOR – Esquadria, comparecer Av. Raquel de
Queiroz nº 1330. Serralheria e Vidraçaria.381.2941.
ANÚNCIO 2 SERRALHERIA Precisa de pessoas dinâmicas, com
garra, que gostem de lidar com o público e que
possuam condução própria para trabalhar com vendas de
esquadrias. Não é necessário ter experiência anterior. Fornecemos treinamento.
Comparecer na Rua 15 de Novembro, 125 – centro, das
08:00 às 14:00 h e falar com Sr. Kléber.
Fonte - Adaptação:
“Diário do Pantanal” – Edição de 25/26 de maio de 2002
Nesta
questão houve unanimidade na resposta, ou seja, 100% dos participantes
escolheram o anúncio 2 como sendo o mais objetivo. As justificativas para essa
escolha foram variadas: possui mais informações, mostra melhor o perfil do
profissional, é mais completo, mais objetivo, melhor redigido, mais claro, mais
definido, dentre outras.
3)
Você acredita que a clareza, objetividade, gramática e ortografia em uma
redação comercial possam influenciar na imagem transmitida pela empresa? Justifique
sua resposta.
Nesta
questão, também houve unanimidade, isto é, 100% dos participantes responderam
“sim”, utilizando-se de diversas justificativas para tal resposta, entre elas,
o grau de comprometimento desses itens (clareza, objetividade, gramática e
ortografia) com a imagem da empresa e a conseqüente associação desses itens com
o produto ou serviço oferecido pela organização.
4)
No seu ponto de vista, é importante que as pessoas falem e escrevam corretamente?
Para esta questão, 100% dos participantes responderam que é importante que as
pessoas falem e escrevam corretamente.
Número
de participantes que responderam ser o dirigente (diretor ou presidente) da
empresa uma pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que
vive: 5 participantes, o que equivale a 23,81% dos pesquisados.
Número
de participantes que responderam ser o dirigente (diretor ou presidente) da
empresa alguém que transmite uma imagem negativa da organização em que atua: 7
participantes, o que equivale a 33,33% dos
entrevistados.
Número de participantes que responderam ser o dirigente (diretor ou presidente)
da empresa uma pessoa despreparada no que diz respeito ao idioma do país em que
vive e, também, alguém que transmite uma imagem negativa da organização em que atua:
9 participantes, o que equivale a 42,86% dos profissionais pesquisados.
Para
efeito de constatação da importância da Língua Portuguesa na área de Administração, bem como da sua influência na
imagem das organizações empresariais, foi realizada uma pesquisa na qual foi
utilizada a aplicação de um questionário para um universo de vinte e um
participantes, profissionais de diferentes áreas, com escolaridade variável
entre o ensino médio e o ensino superior.
Salienta-se
que esta pesquisa, advinda de uma pequena amostra, não tem a pretensão de
demonstrar resultados definitivos, e sim de promover um alerta aos profissionais
em geral e, principalmente, aos profissionais da área de Administração,
levando-os à reflexão e à conscientização do poder da língua materna nos
processos de comunicação organizacional.
Para
o presente trabalho também foram utilizadas concepções de diversos autores e
dados estatísticos relacionados à área de estudo.
Neste
trabalho, foi abordada a importância da Língua Portuguesa para a área de Administração, levando-se em consideração
a repercussão da língua no que tange à imagem de uma organização.
Sabe-se
que a língua faz parte da cultura de um país, e a sua correta utilização é um
dever quase que patriótico.
A
língua materna encontra-se em todas as áreas do conhecimento e do saber humano:
na troca de idéias sobre determinado assunto, nas negociações, na compra e
venda de produtos ou serviços, na roda de amigos, nos bancos acadêmicos, no
comércio, na indústria, nas organizações públicas, enfim, em todos os locais
onde há seres humanos. Portanto, de forma oral ou escrita, deve ser usada de
maneira adequada, deixando clara a mensagem do emissor para o receptor.
Nas
empresas, essa clareza é de extrema importância na “arte de ordenar”. Segundo
Eli Rozendo (1980 p. 48-49), as ordens devem ser claras, coerentes, concisas,
precisas, diretas e inequívocas. Dessa maneira, uma ordem oral ou escrita para
ser bem compreendida deverá estar em concordância com os preceitos da língua em
que foi emitida, no caso estudado neste trabalho, a Língua Portuguesa.
Rozendo
(1980, p. 11) destaca também a importância da comunicação em todos os níveis:
entre subalternos e superiores, entre empregados e patrões, entre a empresa e o
público, entre a empresa e os fornecedores, nos jornais e revistas destinados
aos empregados, nas reuniões, nas cartas, nos relatórios, nos gráficos, nos
memorandos, nos panfletos e nos filmes publicitários.
Trata-se,
portanto, da imagem da empresa como um sistema por meio do qual ela transmitirá
a sua mensagem, e a maneira como essa mensagem for transmitida poderá
resultar uma resposta (feedback) positiva ou negativa oriunda do ambiente
externo ou, até mesmo, do ambiente interno. Essa resposta poderá ser a
responsável pelo sucesso ou insucesso da organização.
É de
vital importância que a organização agregue valor ao seu potencial por
intermédio da sua imagem, da sua cultura, da sua interação com clientes e
parceiros e, também, do capital intelectual de seus dirigentes e colaboradores,
ou seja, o diferencial capaz de alavancar uma empresa para o sucesso
encontra-se nas pessoas e no conhecimento que elas possuem. É, afinal, a gestão
do conhecimento tão comentada nos dias atuais.
Uma
vez que o administrador conheça as particularidades de seu país e do seu
idioma, ele, com certeza, terá colaboradores capacitados e preocupados com a
correta e adequada utilização da Língua Portuguesa em seu ambiente de trabalho
e atuação, resultando uma imagem positiva, capaz de gerar lucros e aumentar a
clientela.
BIBLIOGRAFIA
ABAURRE,
Maria Luíza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana. Português: Língua e Literatura. São Paulo: Moderna, 2000.
CORRADO,
Frank M. A força da comunicação: quem
não se comunica. Tradução Bárbara Theoto
Lambert. São Paulo: Makron Books, 1994.
MEDEIROS,
João Bosco. Correspondência: técnicas
de comunicação criativa. 9. ed. São Paulo: Atlas, 1995.
MORAES,
Maria Cândida. O paradigma educacional
emergente. 3. ed. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999.
SANTOS,
Eli Rozendo Moreira dos. Comunicação na
pequena, média e grande empresa. Rio de Janeiro: Tecnoprint Ltda., 1980.
BRASIL.
Seminário sobre a língua portuguesa: desafios
e soluções. São Paulo,SP, 31 maio 1999. Disponível em:
<http://www.academia.org.br/desafios.htm>. Acesso em: 18 abril
2002. Jornal Diário do Pantanal. Campo Grande, MS,
25/26 maio 2002. Classificados: Seção
Negócio Fechado, p. 39.
LÍNGUA PORTUGUESA NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO
Defende-se a presença
da disciplina Língua Portuguesa nas diversas graduações e também nos cursos
ligados à tecnologia. Visando uma formação mais coerente com as necessidades do
mercado, comunicar-se de forma precisa, é imprescindível na elaboração e
exposição de projetos para o profissional contemporâneo. Levando em
consideração as necessidades acadêmicas, embora a Língua portuguesa seja
disciplina obrigatória em todas a Educação Básica, ainda há problemas na formação. Mesmo visando
uma formação mais prática, e direcionada a extas, o aluno precisará apresentar
trabalhos escritos, portanto, na parte inicial do curso são abordados conteúdos
de Metodologia científica e também redações que auxiliam no contexto
empresarial. Cabe ressaltar que no Enade as questões de conhecimentos gerais compreendem
questões de Língua, sem deixar de citar que, a parte específica exige uma
correta interpretação dos dados e das informações apresentadas também
textualmente.
Verifiquei também verifica-se o curriculum de algumas
faculdades públicas que apresentam na grade curricular a disciplina:
Instituto federal Mato grosso do sul
Linguagem de Apresentação e Estruturação de Conteúdos
bibliografia
http://portal.sbc.org.br/educacao/lib/exe/fetch.php?media=documentos:cr99.pdf
A VELHA ORTOGRAFIA
A LÍNGUA NO MUSEU
Ruy de Castro
RIO DE JANEIRO - Numa próxima ida a São Paulo, vou voltar ao
Museu da Língua Portuguesa. Acabo de saber ("Ilustrada", 31/8) que os
textos de seu espaço expositivo ainda estão na velha ortografia --ou seja, na
língua como a conhecíamos, antes do "acordo" assinado em 2008 por
parte dos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (leia-se o
Brasil). Preciso fazer isto antes de 31 de dezembro, quando a nova ortografia
será obrigatória, e o trema, por exemplo, irá se juntar aos extintos mamutes,
pterodáctilos e leitores de Pearl S. Buck.
Lá, terei o prazer de ler palavras como
"pingüim", "lingüista" ou "desmilingüido", com o
velho trema. Penso até em lê-las em voz alta, se ninguém estiver olhando, e
lambendo cada trema como Chicabon --antes que sejam reduzidas a "pinguim",
"linguista" e "desmilinguido" e assim comecem a ser ditas
pelos jovens que não sabem como elas soavam. Aliás, passei pelo problema outro
dia nesta coluna, quando reproduzi o trecho da letra do samba "O
Pato", que diz "O pato/ Vinha cantando alegremente/ Quem-quem".
Escrevi, como sói, "qüem-qüem", mesmo
sabendo que meus tremas não chegariam vivos ao jornal impresso, e que a única
pessoa que leria "quem-quem" como "qüem-qüem" seria o
professor Evanildo Bechara, um dos autores da reforma. Quando a coluna saiu,
submeti-a a alguns jovens pouco versados em bossa nova. Todos pronunciaram
"quem-quem". E se, um dia, Evanildo for chamado de
"linguista", e não "lingüista"?
O poeta mineiro Abgar Renault (1901-1995), que não
aderiu às reformas de 1943 e 1971, morreu escrevendo "phosphoro",
"pthysica" e "portuguez". Seguindo seu exemplo, continuarei
a escrever "qüem-qüem" e deixarei a meus editores a tarefa de
expurgar os tremas.
Acho que o Museu da Língua Portuguesa deveria
continuar na velha ortografia. Afinal, é um museu, não?
O PODER DA VÍRGULA
Josué Gomes da Silva
Numa
prova de português do ensino fundamental, ante a pergunta sobre qual era a
função do apóstrofo, um aluno respondeu: "Apóstrofos são os amigos de
Jesus, que se juntaram naquela jantinha que o Leonardo fotografou".
A frase,
além de alertar sobre os avanços que precisamos na excelência da educação, é
didática quanto aos cuidados no uso da língua portuguesa, preciosidade que
herdamos dos lusos, do galego e do latim.
O erro
gritante que o aluno cometeu ao confundir dois termos com sonoridade parecida
foi agravado com a colocação da vírgula depois de "amigos de Jesus".
Sim, pois o sinal tornou a frase afirmativa de que os apóstolos eram todos os
amigos que Jesus tinha. Ou seja, uma simples vírgula colocou em xeque o que
teólogo algum ousou questionar, em mais de 20 séculos, quanto ao número de
seguidores de Cristo.
Aliás,
observo que vírgulas usadas indevidamente têm transformado Lula no único chefe
de Estado anterior à presidenta Dilma Rousseff. Há quem escreva assim: "O
ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, (...)". Ao destacá-lo
entre os sinais de pontuação, o redator renega, por virgulação, todos os demais
ocupantes do cargo desde a Proclamação da República.
Por falar
em vírgula, lembrei-me de caso ocorrido numa cidade paulista. O vereador
proponente lia seu "improviso" na cerimônia de outorga do título de
cidadania a um professor de português. A iniciativa deveu-se ao fato de o
mestre ter alfabetizado o nobre edil e outros munícipes no curso de adultos. O
exaltado orador disparou: "Este grande letrista me transformou num
competente palavrista, pontuador e virgolapense".
Um
constrangido catedrático, ao discursar, agradeceu, mas recusou a homenagem.
"Não a mereço", frisou! Em tempo: virgolapense é o gentílico do
município de Virgem da Lapa, localizado no Vale do Jequitinhonha (MG).
Ao não
dar explicações sobre o óbvio, o velho membro do magistério evitou a
redundância, esse vício que polui o idioma, como ilustra ato de assinatura de
convênio para projeto de piscicultura numa pequena cidade do interior gaúcho.
"Vamos vender nosso peixe em todos os países da Terra", bradou o
prefeito, num arroubo de entusiasmo. "Questão de ordem, Excelência, mas só
nos da Terra? Por que não também nos países de Marte, Vênus e até
Saturno?" --ironizou o líder da oposição na
Câmara Municipal.
Câmara Municipal.
O poder
da vírgula e o das palavras é tão importante que, no passado, o artifício do
veto à pontuação foi usado para mudar o teor das leis contra os interesses da
sociedade. Assim, preocupado com o nosso idioma e com a paciência dos leitores,
encerro hoje um ano de modesta colaboração à Folha. Obrigado!
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