sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

As três Teresinhas de Ivan AngelO

O NOME E O PERFUME
 17.jan.2014 por Ivan Angelo
 
Tive três namoradas com o nome de Terezinha, assim, no diminutivo. Coincidência? Claro. Destino, superstições, bruxas e fadas são matérias de ficção. Admito, porém, que tenho uma, vamos dizer, história com esse nome, e com o que lhe deu origem, Teresa.
O bairro onde morei primeiro e por muitos anos chama-se Santa Teresa, em Belo Horizonte. Fui batizado e fiz a primeira comunhão na Igreja de Santa Teresa. O bonde que me dava um destino na cidade chamava-se Santa Teresa, e o time que arrancou meus primeiros gritos de “gol!” foi o... adivinharam. Em São Paulo, meu primeiro casamento aconteceu na Igreja de Santa Terezinha, em Higienópolis. Na viagem de núpcias, um dos melhores lugares foi a ilha grega de Santorini, no Mar Egeu, que os antigos chamavam de Thera, ou Thira.
Que significa um nome, pergunta o Romeu de Shakespeare a Julieta, se aquela que chamamos rosa teria igual perfume com qualquer outro nome? Alguém pode não saber: Teresa tem origem grega, quer dizer “a que vem da ilha de Thera”. Na forma arcaica, Therasia, era o nome da mulher do bispo São Paulino de Nola, no século V; também arcaica é a grafia Tareja, o nome da mãe do primeiro rei de Portugal; já com escrita moderna temos a santa espanhola Teresa de Ávila, do século XVI, e depois dela o nome ganhou o mundo; Thérèse de Lisieux, francesa do século XIX, veio a ser a Teresa do Menino Jesus, que, em Portugal, onde mais?, virou Terezinha. Chegamos aonde eu queria.
Minha primeira Terezinha era moça difícil de beijar. Eu fazia estágio como aspirante a oficial da reserva no 10º Regimento de Infantaria, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Um drama aguentar quartel, marchas a pé e motorizadas, acampamentos, exercícios de reconhecimento e medição de terreno, uma tolice em tempos de paz, amenizada pela doce Terezinha. O estágio durou três meses, o namoro menos. Moça, como disse, difícil de beijar. Mesmo depois de conseguir, era difícil recomeçar no dia seguinte, partíamos praticamente do zero. Ela trabalhava na tecelagem, onde se faziam meias, camisetas, roupas de malha. Cabelos pretos, pele muito clara e secreta, vislumbres de brancuras à luz da lua. Dei a ela, no fim do estágio, em despedida chorosa de parte a parte, um anel de pedra verde, esperança de voltar. Não voltei, querendo voltar. Juiz de Fora não fazia sentido no meu futuro.
Ah! Antes tive alguma coisa com uma perturbadora Teresa, até escrevi um conto a respeito, Meio Covarde. Salto essa. Sem diminutivo, era fera devoradora, e estou falando aqui das suaves Terezinhas.
A segunda trabalhava com um amigo na área cultural de BH. Preta, delicada, suavíssima de voz, de pele, de intenções. Levou-me a conhecer a família, em casa gostosa de mangueiras. “Minha filha quer casar”, a mãe dela me disse quando surgiu o momento, como a prevenir ousadias, fraquezas. Eu já tinha um Fusca azul. Passeios à praia em remanso do Rio das Velhas, de antes da poluição, na vizinha Santa Luzia. “Aí não”, ela pedia. O luar pintava um cenário de obviedades acadêmicas.
A terceira, conheci na redação do jornal. Tinha namorado, e eu, mulher e filhas — um caso que não podia dar certo. Estamos juntos há 23 anos.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Campo lexical e semântico

Carta de amor de um professor de Geografia

Era uma vez um professor de Geografia que escreveu a seguinte carta para a namorada:

Meu amor,

            A saudade que sinto do teu perfil suave como a serra! Mas não sei chorar. Minhas lágrimas são lençóis cativos nas camadas mais profundas do meu ser - e eu não posso, não choro, não sei chorar. Mesmo que essa alternância de gelo e degelo, longe de ti, venha fragmentado gravemente a rocha dos meus nervos.
           Penso em ti. Profundamente em ti. És de uma ternura transparente como a formação cristalina. És bela como uma floresta de cedros intactos. Doce como a luz do dia estendida sobre as dunas muito brancas. Alta e misteriosa como as agulhas esguias que existem na Islândia. Estás em todas as minhas direções como a rosa-dos-ventos.

Mando-te uma montanha de beijos.
(CAMPOS, Paulo Mendes. Amor de Professor de Geografia)

poema De Gramática e de Linguagem

 E havia uma gramática que dizia assim:
"Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta".
Eu gosto das cousas. As cousas sim !...
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.

As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso...João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João...
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto...
Mario Quintana

Frase que usa todas as letras do alfabeto


-A frase  THE QUICK BROWN FOX JIUMPS OVER THE LAZY DOG-“A raposa ligeira e marrom salta  sobre o cachorro preguiçoso”- utiliza todas as letras do alfabeto e foi criada pela Western Union ´para testar suas máquinas de teletipo.

 
Revista Na poltrona, julho, 2001.

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

música VOU TIRAR DO DICIONÁRIO A PALAVRA VOCÊ!

           

Zélia Duncan


Eu vou tirar do dicionário
A palavra você
Vou trocar-lá em miúdos
Mudar meu vocabulário
e no seu lugar
vou colocar outro absurdo
Eu vou tirar suas impressões digitais
da minha pele
Tirar seu cheiro
dos meus lençóis
O seu rosto do meu gosto
Eu vou tirar você de letra
nem que tenha que inventar
outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
com quantos "nãos" se faz um sim
Eu vou tirar o sentimento
do meu pensamento
sua imagem e semelhança
Vou parar o movimento
a qualquer momento
Procurar outra lembrança
Eu vou tirar, vou limar de vez sua voz
dos meus ouvidos
Eu vou tirar você e eu de nós
o dito pelo não tido
Eu vou tirar você de letra
nem que tenha que inventar
outra gramática
Eu vou tirar você de mim
Assim que descobrir
com quantos "nãos" se faz um sim
"Tudo que você disser
deve fazer bem
Nada que você comer
deve fazer mal"
"Eu quero as mulheres
que dizem sim
http://letras.mus.br/zelia-duncan/120057/

música VERBOS SUJEITOS

Verbos Sujeitos

Zélia Duncan


Olhos pra te rever
Boca pra te provar
Noites pra te perder
Mapas pra te encontrar
Fotos pra te reter
Luas pra te esperar
Voz pra te convencer
Ruas pra te avistar
Calma pra te entender
Verbos pra te acionar
Luz pra te esclarecer
Sonhos pra te acordar
Taras pra te morder
Cartas pra te selar
Sexo pra estremecer
Contos pra te encantar
Silêncio pra te comover...
Música pra te alcançar...
Refrão pra enternecer...
E agora só falta você
Meus verbos sujeitos ao seu modo de me acionar
Meus verbos em aberto pra você me conjugar
Quero...vou...fui...não vi...voltei...
Mas sei que um dia de novo eu irei
http://letras.mus.br/zelia-duncan/43892/

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014