domingo, 4 de agosto de 2013

Pontuação ( e oposição)

Opostos
No meio de uma poesia, o ponto saltou na vírgula com intenção de namorar.
Foi coisa bem passageira, dessas que ninguém liga, mas entre o ponto e a vírgula de pano pra manga da briga.
A vírgula, toda prosa, pro papo continuar. O ponto queria descanso, ficar de papo pro ar.
A vírgula esticava uma frase, lero-lero, coisa e tal, lá vinha o ponto correndo e botava um ponto final.
Foi indo, a vírgula ficou nervosa. Falou do direito e do avesso, falou do fim pro começo, berrou e perdeu o senso.
O ponto? Nem ligava pra ausência de consenso. Ponto é silêncio no texto. Imagine se muda de jeito!
A vírgula, na mesma hora, resolveu ir embora numa frase de efeito.
O ponto ficou zangado, achou de botar defeito: – Podes ir, tagarela – falou com voz amarela – Como és chata, criatura! Nem escritor te atura!
A vírgula, atrevida, optou pela pirraça: toda hora requebra de graça em qualquer frase sentido. O ponto, quando ela passa, esquece de lado o passado, fica todo derretido.
O poeta investiga as razões da eterna briga: os opostos se atraem, querem sempre se juntar. Não há sem franqueza, nem feiúra sem beleza e a sorte depende do azar.
(Ciça Fitipaldi)

Nenhum comentário:

Postar um comentário