segunda-feira, 8 de abril de 2013

A escolha de nomes para os filhos: modismos...

Próprios e impróprios
Ivan Angelo
Mas por que será que tantas pessoas recusam os nomes próprios tradicionais na hora de registrar os filhos? Estão nesse rol duas categorias de pessoas: as ingênuas e as bregas. Buscam – e acham! – nomes complicados, muitas vezes estranhos; inventam, misturam, importam, adaptam. Por que não um simples João, Paulo, Pedro, Tiago, Mariana, Luísa, Camila, Luciana? Talvez acreditem que um nome comum conduzirá o nomeado a um destino comum.
Na busca do diferente, têm preferência sons da América do Norte. Wesley está na moda. Brian, Nathan, Michael, Washington correm junto. Muitas vezes os pais só pegam o som, não a grafia. Como é o caso do nome do jogador de futebol Uóshito. Ou de seus semelhantes, que encontrei numa matéria de jornal recente: Uini (seria Winny), Oliude (Hollywood), Estivenson (Stevenson), Viliam (William), Hantuane (difícil reconhecer aqui o francês Antoine). Outros inventam uma pronúncia que não existe, como o brega-chique Paôla. Porque Paola, em italiano, se pronuncia Paula, simplesmente. Meu próprio nome é estrangeiro, russo, mas não dá muito na vista. Encontro na reportagem nomes que não são de gente e passaram a ser: Welcome, Pensylvania, Overland. Pode uma coisa dessas?
Há pais que recorrem a misturas: Wandressa, Lusimélia, Roniwalter, Roseméri. Outros simplesmente inventam: Ervane, Reulis. Quantos nomes de gente conhecida são também estranhos? O político Pauderney, a desportista Shelda, o escritor Lêdo.
Um amigo descendente de libanês contou-me que tinha uma tia com um nome incrível: Uruqsan. Registrado. Não havia nada parecido no Líbano, de onde viera menina. Lá ela se chamava Roxane. O avô contava que repetira várias vezes o nome dela para o funcionário da imigração e este o anotara no documento. Não entendia a grafia brasileira. Imagine, leitor, o sotaque carregado do libanês ao silabar Roxane, o "r" palatal apoiando-se numa ausente vogal "u", o "x" soando "cs" como em "fixa" ou "flexão", e você estará perto de Uruqsan.
Sim, às vezes a culpa é do cartório. Aconteceu com Millôr, que era para ser Milton mas a letra ruim do escrivão empurrou o pequeno traço do "t" para cima do "o", não desenhou direito a perninha do "n", e o Milton desapareceu. Meu próprio irmão era para se chamar Jesus, como meu pai, mas um escrivão latinista ou católico demais transformou-o em Jésus. Pode ter achado falta de respeito alguém se chamar Jesus. Ora, é um nome popular no México, país de católicos fervorosos.
Quando eu era menino, falava-se de um nome absurdo, Um Dois Três de Oliveira Quatro. Dizia-se que era real, tinha saído no jornal. Saiu também José Índio do Brasil, parece que nome verdadeiro. No fim do cadastramento eleitoral os jornais costumavam vasculhar listas nos cartórios, à procura de curiosidades.
Que não faltam. Não é curioso que tantos jogadores de futebol com nomes terminados em "son" tenham ficado famosos? A começar por Édson, o maior de todos. Confiram: Edmilson, Denilson, Dinelson, Robson, Anderson, Edílson, Liédson, Kléberson...
Curioso também como alguns nomes tradicionais caíram em desuso, considerados "antigos", "feios", "de pobre", "nada a ver": Sebastião, Eustáquio, Joaquim, Benedito, Eurico, Ifigênia, Dirce, Orlando, Vanda, Ildeu, Amélia, Vicente, Lourdes, Raimunda, Aurora, Arlindo. E outros, "modernos", entraram em alta, como Jéssica, Andressa, Pâmela, Gisele, Natalie, Michel, Michelle. Não se explica. Modas...
Pensava que era um castigo carregar um nome esquisito a vida inteira. Gozação na escola, apelidos para amenizar, burocracia dificultando a mudança. Nada disso. O jornal diz que a maioria adora a diferença.
fonte: revista Veja São Paulo, 2005.

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